Henrique Carneiro (1874-1912)
"O Porto perdeu um dos seus artistas mais queridos, Henrique Carneiro. Havia sido atacado, ha tempo, de alienação mental e a terrível doença manifestara-se por fórma a não permittir a menor esperança de cura, nem mesmo de allivio; por fim veiu a morte pôr termo a essa desesperada situação. Eis os dados que, sobre a vida artística do mallogrado musico, podemos colher do Primeiro de Janeiro, a quem pedimos vénia para transcrever os seguintes períodos: Henrique Carneiro nasceu n'esta cidade (Porto) a 4 de dezembro de 1874.
Havendo, desde muito creança, mostrado grande vocação para a musica, seu pai confiou primeiro a sua educação artistica ao sr. Alves, antigo contramestre de caçadores 9 e mais tarde ao illustre professor e nosso estimabilissimo amigo sr. Moreira de Sá, que o apresentou n'um concerto no Atheneu Commercial do Porto, tendo Henrique Carneiro apenas doze annos de edade. Desde então, porque fosse progressivamente evidenciando os seus muitos merecimentos, tornou-se uma das figuras mais conhecidas do Porto, sendo rara a festa de élite em que não tomasse parte.
Assim é que, durante alguns annos, foi o concertino do theatro de S. João, bem como regente de alguns concertos effectuados no «Aguia d'Ouro» pela Associação de classe musical dos professores d'instrumentos d'arco no Porto. Além d'isso, tomou parte em varios concertos realisados no Orpheon Portuense, Club de Leça, Club da foz, Assembleia de Espinho, e bem assim em numerosas festas de
Em março de 1897 e fevereiro de 1902 acompanhou, como regente, a Estudantina Academica do Porto, a Pontevedra, Vigo e Santiago de Compostella e a 11 de maio de 1908 apresentou, tambem sob a sua regencia, no Atheneu Comercial do Porto, o applaudido sexteto portuense, composto dos professores Cartos Quilez, Benjamim Gouvêa, F. Symaria, Miguel Alves e Xisto Lopes.
Como compositor, escreveu varias peças sacras, valsas, canções populares e operettas, entre as quaes se destaca «O segredo da Morgada» (poema do dr. Campos Monteiro), representada com geral applauso no theatro Carlos Alberto."
in Arte Musical, Ano XIV, Número 314 de 15 de Janeiro de 1912