Luiz Costa (1879-1960)

Luiz Costa foi um dos pianistas e compositores mais importantes e interessantes do modernismo musical português. Nasceu a 25 de Setembro de 1879, no Minho, em S. Pedro de Fralães, na Quinta da Porta, zona do norte litoral de Portugal, que o viria a marcar profundamente, sendo uma fonte de constante inspiração enquanto compositor. Tendo vivido a maior parte da sua vida no Porto, viria a falecer nesta cidade a 7 de Janeiro de 1960.
Cedo iniciou os seus estudos musicais com Bernardo Moreira de Sá, seu futuro sogro e figura ímpar do mundo musical português de então. Moreira de Sá desempenhou um papel importantíssimo quer no ensino da música, quer na sua divulgação. Fundador de várias sociedades musicais, entre as quais o Orpheon Portuense em 1881, que viria a desempenhar um papel fundamental de divulgação musical a nível nacional, Moreira de Sá foi uma influência marcante e profunda na vida de Luiz Costa.
De 1905 a 1907, Luiz Costa prosseguiu os seus estudos musicais na Alemanha com Busoni, Vianna da Motta, Ansorge, Stavenhagen, representantes da Nova Escola Alemã de Piano, fundada por Franz Liszt.
De regresso a Portugal, Luiz Costa dedica-se com entusiasmo ao ensino do piano, actividade que irá ocupar a maior parte do seu tempo. A par do seu cargo como professor do Curso Superior de Piano, viria a ser director de duas das instituições criadas por seu sogro Bernardo Moreira de Sá, o Conservatório de Música do Porto, fundado em 1917, e a já referida Sociedade de Concertos Orpheon Portuense.
Deve-se a Luiz Costa, enquanto presidente do Orpheon Portuense, a vinda a Portugal de alguns dos maiores nomes da música clássica como Ravel, Arrau, Backhaus, Landowska, Fischer, entre tantos outros. Ele próprio participava em muitos dos concertos desta Sociedade, quer a solo, quer em recitais de música de câmara.
Como solista, recriou em Portugal o hábito dos concertos temáticos, criado por Hans Von Bülow e Ferrucio Busoni, tendo realizado uma série de recitais consagrados aos grandes mestres, entre eles Beethoven (cerca de trinta recitais), Brahms, Chopin, Liszt e Schubert.
No âmbito da música de câmara, Luiz Costa apresentou-se ao lado de músicos como Casals, Guilhermina Suggia, Cortot, Enesco ou Friedman, o que confirma a excelência da sua faceta de instrumentista.
Paralelamente à sua actividade pianística, assume-se na sua vertente de compositor, vertente que desde novo explorava mas que só no princípio do século surge de uma forma mais sólida revelando-se com Drei Klavierstücke Op.1, Fiandeira Op.2 e Poemas do Monte Op.3 dedicados a seu mestre e amigo Vianna da Motta. Luiz Costa surge-nos como um compositor do seu tempo. A par das influências de Dukas, Fauré e da nova música alemão compositor vê no Impressionismo francês a melhor forma de recriar o ambiente do seu Minho natal, com os seus campos e regatos.
Já no auge da sua maturidade como criador, profundamente exigente consigo próprio e com o seu trabalho, envereda por um neoclassicismo considerado por muitos como lírico, bucólico e nostálgico (a definição de português para Miguel de Unamuno). Estas características estão claramente presentes em obras como Prelúdios Op.9 dedicados na sua maioria ao poeta Corrêa de Oliveira, ou nos Cenários Op.13 dedicados a sua filha Helena.
Grande representante da nova concepção de artista, culto e com formação global superior e interdisciplinar, Luiz Costa encontra fontes múltiplas de inspiração para as suas criações. Na poesia de Corrêa de Oliveira e de Teixeira de Pascoaes, na escultura de Mestre Teixeira Lopes, ou na natureza do seu Minho natal, (como em Solidão dos Campos ou Roda o Vento nas Searas) encontra temáticas e elementos inspiradores para as suas obras. A maioria das suas obras é de carácter programático. Ao mesmo tempo, o respeito pela tradição, por Bach, Beethoven ou Brahms, levam-no a cultivar também a música absoluta como em Prelúdios Op.9.
Uma das preocupações do compositor era a de incutir um carácter nacional às suas obras. Esta preocupação está bem patente não só na escolha dos títulos (retirados em muitos casos de poemas, confirmando a eclecticidade das fontes de inspiração do compositor), mas também no conteúdo e no material temático empregue, que tenta recriar a natureza da região minhota.
A sua intensa actividade não impediu que a família representasse desde sempre o núcleo da sua vida. Casado com a pianista Leonilda Moreira de Sá e Costa, Luiz Costa foi pai de três filhos, um rapaz, Luiz Moreira de Sá e Costa, e duas raparigas, Helena e Madalena, também elas grandes instrumentistas, respectivamente pianista e violoncelista. Testemunho da sua dedicação à família, é o facto de Luiz Costa ter-lhe dedicado a maior parte das suas melhores e maiores obras, tais como Variações e Fuga Op.16, Cenários Op.13 ou Sonata para Violoncelo e Piano Op.11.
Além das inúmeras obras para piano, Luiz Costa deixou-nos três Sonatinas para flauta, violino e viola, canções sobre textos de poetas portugueses para voz e piano, quartetos de cordas, um trio, um quinteto com piano e uma fantasia para piano e orquestra.
Conseguindo criar na sua obra uma síntese entre a tradição musical alemã, a presença do impressionismo francês e um sentimento profundo do fervor nacional, no seu melhor sentido, Luiz Costa alcançou aquilo que é o mais difícil para um compositor, criar uma linguagem própria, um universo interior. Foi esta peculiaridade de linguagem, aliada às suas características pessoais únicas, que lhe garantiu um lugar cimeiro no panorama musical português.
Bruno Caseirão
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