A presente abertura vem se juntar às anteriores edições da AvA Musical Editions, completando-se assim a publicação de todas as aberturas de obras dramáticas profanas de Jerónimo Francisco de Lima.
Gli Orti Speridi foi escrito sobre o mesmo famoso libreto de Metastasio que Luciano Xavier dos Santos tomara para a sua obra homónima, estreada no Palácio de Queluz em 1764, o que demonstra não ter havido então qualquer preocupação de originalidade, por parte dos compositores, na escolha de libretos. Nele foram encrustados longos trechos de louvor à
Rainha-Mãe, D. Mariana Vitória, a quem a serenata foi dedicada, que teve ocasião de a ouvir, quando do seu aniversário, em 1779, apesar de já muito doente, pelo que se mandou instalar cortinas que a separassem dos restantes assistentes, dois anos antes da sua morte, na Real Barraca da Ajuda, da qual hoje nos resta unicamente a torre sineira da igreja adjunta.
Enquanto os primeiros andamentos de Gli Orti Speridi testemunham uma simplicidade - ou mesmo, fragilidade – que os faz, de certa forma, inferiores aos seus congéneres da lavra deste compositor, o seu último andamento tem um vigor contrapontístico único na produção de Jerónimo Francisco de Lima, que aí alcançou um equilíbrio arquitectónico estupendo, neste que é o mais longo de todos os seus típicos últimos andamentos de aberturas em 3/8. Nem mesmo no seu grande Te Deum as fugas encontram este grau de desenvolvimento. O último andamento de Gli Orti Speridi faz-nos pensar que muito nos poderia surpreender a música perdida de Lima, como a Missa que William Beckford refere ter ouvido no dia 5 de Agosto de 1787, pois Jerónimo Francisco de Lima nele prova que sabia elaborar material com grande astúcia.
A metodologia editorial não difere, quanto a esta abertura, da que se adoptou para as restantes deste mesmo compositor, mantendo ao máximo as características da fonte primária que se encontra na Biblioteca da Ajuda (48-II-4), à qual se agradece muito pela autorização de publicação. Talvez mais ainda do que nas aberturas anteriores, verifica-se nesta obra que o compositor preferiu repetir diversas vezes dinâmicas que já vigoravam, num pleonasmo que em muitos casos tem um efeito muito expressivo, motivo porque foi mantido.
Não queira o intérprete moderno reconhecer nas colcheias cortadas acciaccature curtas. Em geral elas equivalem a metade do valor da nota que antecipam ou, no caso de esta ser pontuada, a dois terços, como a comparação entre dois trechos correspondentes do primeiro andamento desta abertura claramente demonstra, uma vez que o compositor, para música similar, ora usou a escrita ornamental, ora a pôs por extenso:
Para o primeiro andamento, no que toca às trompas, a partitura indica unicamente ‘Unis.’ após as duas claves de fá.
Nesta edição escrevemo-las por extenso, sempre a dobrar os trompetes, notadas 8ª abaixo do que de facto soam, por ser esta a prática de Lima, sempre que as escreve em clave de fá. No segundo andamento mantivemos a notação original, que deve ser entendida de mesma forma.
Seguindo a norma que se depreende do material original que nos sobreviveu do seu Te Deum, tanto no primeiro como no terceiro andamento, o fagote deve seguir as partes de Bassi e, assim como o instrumento de continuo, calar-se sempre que a indicação seja de Violoncello.
As propostas editorias, devidamente assinaladas, visam tão-somente homogeneizar as indicações da própria fonte, assim como corrigir erros, que, no manuscrito desta abertura, são muito poucos: