Instrumentação: coro infantil (a 1 voz), piano
Textos: Sérgio Azevedo e Joana Raposo
Ilustrações: Joana Raposo
Data de composição: 2008
Canções:
I. O Grilo tenor e a Cigarra com temor
II. A Joaninha que perdeu as pintas
III. Uma Melga bem educada
IV. A Carocha descontente
V. O Escaravelho do Estrume
VI. Um Piolho com vertigens
VII. Alfaiate por engano
VIII. Louva-a-Deus
IX. Barata tonta
X. Borboleta
XI. Gafanhoto saltitão
XII. A Carraça de raça
XIII. Uma Mosca na sopa
XIV. A Pulga avariada
XV. Abelhas
XVI. A Lagarta surda
XVII. Gorgulho comilão
XVIII. Bicho-da-Seda
XIX. Estado Larvar
XX. Besouro buzinão
XXI. Marcha das Formigas
XXII. Pirilampo Vaga-Lume
XXIII. Libelinha apressada
XXIV. Passa a Traça
XXV. Faz de Conta que não é Bicho-de-Conta
Duração: ca. 20’
Nível de dificuldade:
1. Muito fácil
2. Fácil *
3. Média dificuldade *
4. Difícil
5. Muito difícil
Dedicatórias: à Joana Raposo
Canções com Insectos lá dentro
Escrevi estas 25 curtas canções em Março de 2008, nas férias da Páscoa, para a Joana Raposo. Tendo já composto várias peças e canções com animais como tema, dei-me conta que estes eram em geral representados por mamíferos, peixes, répteis ou aves, ficando os insectos quase sempre de fora.
Embora normalmente pouco desejados nas nossas casas, o mundo dos insectos é fascinante, e tentei dar aos textos (que eu próprio escrevi em colaboração com a Joana Raposo, que também fez as ilustrações) algum humor, que aproximasse as crianças destes animais tão pouco amados mas, em muitos casos, completamente inofensivos (algumas excepções, como a melga, a pulga ou a carraça, são igualmente tratadas com ligeireza no texto).
Embora uma criança não perceba a brincadeira, na Marcha das Formigas (nº21), é feita uma curta alusão a um momento da marcha da 7ª Sinfonia, “Leninegrado” de Chostakovitch, que retrata a marcha dos exércitos nazis pela Rússia invadida. Uma vez que esta marcha já é ela própria uma alusão ao esquema formal do Bolero de Ravel, efectuado por sua vez sobre um motivo roubado da Viúva Alegre de Léhar (a opereta favorita de Hitler…), a brincadeira está explicada. Tratando-se de 25 peças, a ordem de execução pode ser livre, até porque, na maior parte dos concertos e audições, não se farão as canções na íntegra.
Para além destas vinte e cinco canções dedicadas aos insectos existem ainda mais oito canções sobre o mesmo tema (e com os mesmos textos) numa série intitulada Insectário (2008), e ainda uma série dedicada a outros animais pouco desejados perto de nós, que contempla, entre outros, a centopeia, o escorpião e o lacrau: Bichos de Arrepiar! (2008).
Sergio Azevedo
Breves comentários aos ciclos de canções infantis para canto e pianode Sérgio Azevedo
A importância do canto na formação musicalda criança, assumida pelas principais correntes da pedagogia musical moderna, e o interesse do contacto da criança com música variada de qualidade, faz do repertório vocal infantil um recurso precioso para todos os que se dedicam ao ensino da música aos mais pequenos. Vários foram os compositores portugueses a mostrar esta preocupação – Fernando Lopes-Graça, Fernando Corrêa de Oliveira, Cândido Lima, Eurico Carrapatoso ou Fernando Lapa, entre outros – ao dedicarem obras às crianças enquanto executantes, nomeadamente canções para canto e piano.A presente edição dos ciclos de canções para coro infantil e piano, compostos até 2008 porSérgio Azevedo, representa um importantíssimo contributo para o enriquecimento da literatura musical para a infância em Portugal, constituindo-se também como um recurso musical precioso para os educadores no que respeita à formação vocal, musical, técnica e artística das nossas crianças, no contexto de aulas de Iniciação e de Formação Musical. Destinadas a serem cantadas por coros infantis e juvenis, as canções variam entre canções muito simples, acessíveis a crianças a partir dos 6, 7 anos de idade, como é o caso das Duas Canções Infantis ou das Cinco Canções Simples, até canções mais complexas, implicando por vezes polifonia a duas e três vozes, que se adequará melhor a executantes a partir dos 12, 13 anos de idade, como é o caso de algumas canções pertencentes à 2ª série do ciclo Aquela Nuvem e Outras e das Três Canções Infantis de Sidónio Muralha. Em todos os casos, no contexto da faixa etária e nível a que se destinam, oferecem à criança um desafio, pela rejeição do óbvio e a apresentação de materiais musicais diferentes daqueles que encontra na música a que habitualmente tem acesso.Numa linguagem musical marcada por diversas influências sintetizadas numa expressão original, Sérgio Azevedo revelnestes ciclos as suas raízes musicais, oriundas de Prokofiev, Lutoslawski, Szymanowski ou Lopes-Graça, fazendo ainda referências à música tradicional portuguesa, polaca, checa, morava, e latino-americana (sendo precisamente a atenção dada ao folclore o elemento que une este grupo de compositores), e aproximando-se de géneros como o rock ou o jazz. O resultado, sendo essencialmente tonal e modal, joga com flutuações modais, modulações súbitas, cromatismos livres e irregularidades rítmicas. O compositor recorre ainda à citação de obras de Chostakovich, Prokofiev e Janá?ek em algumas das canções, procedimento original na escrita de música para a infância, e fá-lo, não com a pretensão da identificação dos temas por parte da criança, mas assumindo o procedimento como uma brincadeira que se destina ao ouvinte adulto.Verifica-se igualmente nestes ciclos vocais uma criteriosa escolha (e respectivo tratamento musical) dos textos, que provêm de autores tão significativos como Sidónio Muralha, Eugénio de Andrade, Vinicius de Moraes ou Fernando Pessoa, entre outros, e ainda o cuidado na escrita daqueles que são da autoria do próprio compositor.A temática central na maioria dos ciclos relaciona-se com animais (Cantigas de Bichos, Canções com Insectos lá Dentro, Insectário, Canções Zoo(i)lógicas, Bichos de Arrepiar!…)revelando o carinho que por eles nutre Sérgio Azevedo, assim como o conhecimento do interesse das crianças por todos os bichos, do mais comum ao mais exótico, espelhado na literatura infantil onde esta temática ocupou ao longo dos tempos – e ocupa ainda hoje – um lugar importante. Nestes textos os bichos encarnam em simultâneo características humanas e qualidades próprias da sua condição animal, numa leitura lúdica, humorística e simultaneamente educativa, pela observação das características de cada um em termos de comportamento, origem, alimentação ou aspecto.As ilustrações de Joana Raposo (a quem são dedicadas estas canções) criadas a partir de fotografias dos animais, complementam a informação, podendo funcionar como um apoio à compreensão de determinadas características musicais (andamento, motivos melódicos, texturas, ambientes sonoros) e à compreensão do texto literário (o humor de algumas cenas, humor que é apreendido sobretudo pelo conhecimento das características físicas e comportamentais do animal).
Sandra Barroso
(Escola Superior de Música de Lisboa)