Sobre uma Melodia Israelita é uma pequena peça de câmara escrita para crianças.
Esta partitura surgiu a partir da iniciativa de Joana Amorim, professora de flauta de bisel e minha colega na Escola de Música do Conservatório Nacional. O seu propósito era simples: alargar o repertório para o grupo de câmara composto pelas jovens e talentosas instrumentistas que passo a apresentar e a quem dedico esta peça:
Inês Rodrigues – flauta de bisel
Beatriz Bagulho – violino
Camila Robert – guitarra
Rebeca Amorim - harpa
Como o próprio nome indica esta pequena composição tem como ponto de partida uma melodia Israelita. O nome original dessa melodia é ma na vu.
Na versão original esta melodia é o suporte musical de uma dança. Na versão que compus não há a intenção de conservar a integridade métrica original. Nesta versão, - para grupo de câmara -, quis usar apenas o potencial melódico de ma na vu justapondo e sobrepondo esta melodia com material inventado; material esse que por vezes é derivado do original.
A melodia original ouve-se na harpa, na flauta e também na guitarra. O violino não a toca pois tem outra função na textura musical desta pequena peça. A técnica de sobreposição de camadas, - patente no tipo de escrita utilizado -, atribui à parte do violino um papel especial nesse contexto. Há também a intenção de associar a textura referida a relações de contraponto entre as vozes. O objectivo que assistiu a escolha da segunda técnica enunciada, e o tipo de contraponto usado, foi o de criar um contexto que faça o ouvinte retornar a sonoridades do passado. Contribuem para esse mesmo fim os acordes sem terceira, as dominantes sem sensível e as cadências tipo II – I.
Note-se que a ausência, ou a quase inexistência, de indicações no que respeita à notação de articulações nesta partitura tem como objectivo deixar em aberto as várias possibilidades existentes a esse nível.
Sendo uma peça escrita para crianças pressupõe-se a necessidade de acompanhamento pedagógico durante o trabalho de leitura e entendimento da música escrita. Em meu entender aquela indefinição pode contribuir para um diálogo produtivo entre professor e aluno na procura das articulações mais convenientes para cada momento da peça, abrindo possibilidades de acordo com as capacidades do aluno naquela etapa da sua formação em vez de restringir em demasia o resultado musical desta pequena peça, o que poderia trazer dificuldades desnecessárias.
Fernando N. Lobo (2008)