Quando os meus amigos Filipe Pinto-Ribeiro e Tatiana Samouil me falaram da possibilidade de escrever uma peça para eles, concordámos que deveria ter um temo que fosse de algum modo comum às culturas russa e portuguesa.
Depois de algum trabalho de pesquisa, encontrámos Idália, essa misteriosa mulher portuguesa, que teve um papel importante na morte de Pushkyn, ao atrair a mulher deste a sua casa para encontrar outro homem.
A similaridade deste episódio e do duelo que se seguiu com a situação descrita no “Evgueni Oneguin” impressionou-me desde a primeira vez que ouvi a versão de Tchaikovski do texto de Pushkyn.
É impossível não encontrar aqui uma espécie de “antecipação” do que viria a ser o destino do próprio Pushkyn. Mais do que extrair motivos musicais do “Oneguin”, decidi usar como ponto de partida a magnífica cena de ciúmes, tão bem expressa neste excerto: “LENSKY: Cada écossaise, cada valsa, dançaste-as com o Oneguin! Eu pedi-te mas recusaste! OLGA: Vladimir, isso é ridículo, estás furioso por nada!”. Assim, do ponto de vista musical, os ritmos de valsa e écossaise foram o ponto de partida da minha peça, e são a origem última do seu título: “Danses brisées”.
É possível encontrar aqui ou ali referências discretas a motivos da obra-prima de Tchaikovsly, mas foram eles que se impuseram discretamente a mim, não fui eu que andei à procura deles...
“Danses brisées” foi estreada por Tatiana Samouil (violino) e Filipe Pinto-Ribeiro (piano) em Maio de 2010 (S. Petersburgo e Moscovo)