Introdução
Este conjunto de 10 peças para trompa e piano insere-se numa coleção de cinco livros, todos eles pedagógicos e progressivos, no total de sessenta peças, designadamente: 15 peças mesmo fáceis para trompa e piano; 15 pequenas peças para trompa e piano; 10 peças mais ou menos fáceis para trompa e piano; 10 peças para trompa e piano; e 10 peças difíceis para trompa e piano.
Este livro é o segundo a ser editado, e é o resultado de uma colaboração estreita com o compositor Abel Chaves, ambos achando que uma pareceria desta natureza dará frutos muito mais ricos para os dois instrumentos, num esquema relacional permanente em que trompa e piano assumem-se como par camerístico.
“Musica Divertida”
Esta é uma peça bastante simples, sendo o tema da Beatriz, a filha de 8 anos do João Alves. O piano tem uma parte sincopada e fluente, acompanhando uma melodia infantil, e que assenta sobretudo em intervalos conjuntos.
“A Toca”
O tema desta peça tem um recorte algo popular, pois o objetivo é que ele fique rapidamente no ouvido, enquanto, paralelamente, é pretendido o aperfeiçoamento da técnica do stacatto dos executantes, por exemplo: quando aparecem duas semicolcheias repetidas estas devem ser feitas no limite de velocidade do stacatto simples.
“A Navegar no Mondego”
Esta peça começa com uma pequena cadência para a trompa com alguma dificuldade técnico-interpretativa. Contudo, o protagonismo é dividido pelos dois instrumentos: primeiro é a pequena cadência para a trompa; de seguida, o piano toca o tema da cadência da trompa enquanto o papel da trompa até à letra “C” é meramente secundário; daqui em diante, os papéis invertem-se, numa espécie de desafio mútuo dos instrumentos pela supremacia do tema. A parte de piano tem influência ” Bachiana”.
“ Melodia”
Esta peça contrapontística, com a parte do piano bastante grave, confere um ambiente misterioso e algo sinistro. A sua execução torna-se estimulante para os executantes, particularmente por duas razões: a) enquanto o andamento deve ser feito a ”dois”, há momentos em que a melodia sugere bem mais uma execução a “quatro”; b) a presença relativamente assídua de sincopas e quiálteras vem adicionar uma dificuldade que aparentemente não é percetível apenas na leitura.
“Janela de inverno”
Aqui pretende-se a exploração do registo agudo e grave da trompa, ao mesmo tempo que se exige uma grande musicalidade do intérprete. Esta peça tem ainda uma linguagem que nos sugere Brahms.
“ Marcha”
Esta marcha de carácter grotesco explora os contratempos; ao mesmo tempo, tem também algumas anotações estimulantes ao nível da intensidade, ”ff”,”sfz”,”fp”, que se assume como um desafio importante num ambiente reminiscente de Stravinsky.
”Dermatofagodes-ostralipopapessuga”
Esta peça com influências de L. Bernstein tenta retratar um imaginário infantil, sugerindo figuras bizarras vindas de planetas esquisitos e distantes; para isso existem neste número gestos e elementos musicais concomitantes, tais como a trompa a ter o mesmo ritmo que o piano, desassossegadas sincopas, a trompa no registo grave, e a particularidade de trompista e pianista verbalizarem a única palavra de intercomunicação possível entre os habitantes dos dois planetas: “Zumbi!” Todos estes elementos almejam à criação de um clima de hesitação e experimentação.
” Saltitando”
É uma das peças mais difíceis deste livro, com um ritmo de ousada junção com um “perpetum mobile” da parte de piano, que é o motor de toda a obra. A parte da trompa impõe exigências técnicas maiores, sem cair numa dimensão apenas de estudo, e com traços icónicos e alguns maneirismos correntes que confirmam o título da peça.
“A Correr com o Zorba”
Scherzo com início pesado mas brincalhão. Zorba é um dos cães de João Alves, de raça Serra da Estrela. Esta peça é feita ao estilo de “ Preludio e Habanera”. O ritmo inicial com semicolcheias pontuadas e fusa ligada a outra semicolcheia tem como objetivo o aperfeiçoamento dos legati rápidos. Mais à frente, aparecem duas semicolcheias descendentes ligadas: são pequenos grupos requerendo uma grande precisão quer nas ligaduras descendentes, quer no ataque da primeira semicolcheia. Esta peça suscita duas auras estilísticas, uma de imponência, a outra mais graciosa, assim procurando definir esta maravilhosa raça de cães Portuguesa.
Tríptico da Ternura
Estas três últimas peças podem ser tocadas quer em conjunto, quer separadamente. É uma homenagem de João Alves à sua maravilhosa família.
I “ Matilde”
É uma peça que se divide em duas partes; a melodia da primeira é cheia de intensidade, enquanto a segunda é um tema com caris popular e infantil e que pode ser usado para exercitar a transposição devido à sua simplicidade e por entrar facilmente no ouvido. Em suma, é o que se pode admirar num bebé, ou numa pequena criança: doçura e ao mesmo tempo uma energia e vontade de conhecer o mundo que a rodeia, através da replicação e experimentação.
II “Little Treat from Mummy”
Composta ao estilo de lied, a sua maior dificuldade são os ataques em “pp”, os rubatos e a afinação sobretudo das notas mais longas.
III “Beatriz”
Devendo ser tocada em ritmo de marcha, a maior dificuldade deste terceiro e último momento do tríptico são os intervalos de quartas, quintas e oitavas e também a rapidez do stacatto, à semelhança da segunda peça deste livro, “ A Toca”; apesar disso, na articulação dos stacatti em “Beatriz” as semicolcheias passam da repetição da mesma nota e de grau conjunto para intervalos maiores, devendo a sonoridade manter-se no limite do stacatto simples.