Duas canções galegas
Para Trio de Flautas de bisel Contralto ou Soprano
Os jovens flautistas de bisel, de uma forma geral, quando não estão a praticar Música Antiga, debruçam-se sobre recursos especiais de Música Contemporânea, raramente executando repertório tonal de cariz harmónico sofisticado. Assim, acaba o cromatismo, para muitos, por se reduzir quase só à vertente técnica, com pouca aplicação artística musical.
Embora desenvolvam vastamente, se forem bem orientados, a capacidade de tomar decisões de articulação, é frequente os alunos de flauta de bisel não terem aguçada astúcia na sua leitura, pois não a encontram notada no repertório antigo e, no contemporâneo, muito alternativa. Acresce-se o facto de que, via de regra, desfrutam de poucas oportunidades de prática orquestral, onde os outros instrumentistas mais desenvolvem a acuidade no que toca à leitura de indicações de articulação.
As duas harmonizações que se seguem têm fundamentalmente dois fins: oferecer repertório camerístico para flauta de bisel com base em procedimentos cromáticos e explorar de forma sofisticada as nuances de articulação, cingindo-se aos recursos tradicionais. Apesar de nelas se praticar uma harmonização complexa - aliada a um contraponto simples, para favorecer o trabalho de afinação -, procurou-se manter referências ao seu ambiente galego original, assim como evidenciar os horizontes poéticos sugeridos pela letra de cada canção. Enquanto na primeira a articulação é muito variada - em alguns casos, inclusive simultaneamente bastante diferenciada entre as três flautas -, na segunda, as diferentes articulações tendem fundamentalmente a apoiar as alternâncias de dinâmica que se propõe, sendo este, sabidamente, um dos assuntos delicados da práticadeste instrumento.
A colocação da letra da canção, sempre tão somente na parte da flauta que estiver a executar a melodia original, visa torná-la facilmente localizável, na medida em que está distribuída pelos três flautistas, de maneira que todos exerçam, alternadamente, funções de liderança, tornando a prática camerística, para cada um, igualmente exigente e desafiante.
Disfrútao se!
Vasco Negreiros
Janeiro de 2014