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    Composer: Jorge Croner de Vasconcellos (1910 - 1974)

    Obras Corais

    €18.00
    de Jorge Croner de Vasconcellos (1910 - 1974)
    SKU: ava100577
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    OBRAS PARA CORO A CAPPELLA

    Sendo a obra de Croner de Vasconcellos marcada mais pela qualidade do que pela quantidade, não é de estranhar que se depare nela uma certa descontinuidade de géneros musicais escolhidos. Estão nesse caso as composições para coro a cappella: enquanto Oito cantos de Natal foi escrita em 1974, último ano da sua vida, sendo aliás a última obra conhecida, todas as outras foram-no durante o período relativamente curto de formação em Paris (1934-37). Mesmo tomando em conta o facto da criação em 1972 de uma obra para coro ao unísono e orgão - Erros meus, sobre soneto de Camões - ainda essa composição aparece trinta e cinco anos decorridos sobre as últimas obras corais daquele período inicial. Tal fenómeno liga-se, muito provavelmente, às circunstâncias que rodearam o compositor nas alturas em questão. A estadia em Paris coincidiu com a época em que Croner de Vasconcellos e Ar- mando José Fernandes se dedicaram ao levantamento e transcrição para notação moderna de obras dos polifonistas portugueses do século XVII. De facto essa tarefa, iniciada em Portugal, continuou em Paris sob os auspícios da Junta de Educação Nacional e do Instituto para a Alta Cultura que lhe sucedeu; e, em 1939 apresentaram ao Instituto o primeiro volume dessa edição pronto para publicação, que aliás não veio a realizar-se (Miranda 1992, 99, 126-7, 244-5). Paralelamente, os estudos de harmonia e contraponto levados a cabo na École Normale de Musique, em Paris, senão também as lições com o compositor Roger Ducasse, terão focado decerto, como era tradicional, a escrita vocal a quatro partes. É possível que algumas daquelas composições tenham origem em devoirs de harmonia ou composição. Um Coral a Santa Cecília fora enviado para a Junta de Educação Nacional, em Lisboa, como prova de aproveitamento do primeiro ano de bolsa de estudo; Fermoso Tejo meu, e A fermosura desta fresca serra figuram entre as composições enviadas no ano seguinte (Miranda, ob.cit., 96-102,199-205). Uma vez de regresso a Portugal em 1937, a inexistêmcia entre nós de uma prática de qualidade de música vocal a cappella não terá deixado de pesar consideravelmente nas escolhas do compositor. O Coro Polyphonia dirigido por Mário de Sampayo Ribeiro atingira nível excelente, mas acantonara-se na música dos polifonistas dos séculos XVI e XVII, com alguma excursão esporádica aos séculos XVIII e XIX; mantinha-se, portanto, inacessível a obras do século XX. Decerto existiram outros agrupamentos corais, designadamente, em Lisboa, o Grupo Coral Harmonia, de Wilhelm Werner, ou o Stella Vitae; porém o nível das suas execuções não era de molde a criar motivação para um compositor com a exigência de Croner de Vasconcellos. Ora, quando a Fundação Gulbenkian criou, a partir dos anos 60, as condições para a existência de um coro de categoria profissional, logo Croner de Vasconcellos reagiu favoravelmente, escrevendo então Vilancico para a festa de Santa Cecília (coro e orquestra), e Oito cantos de Natal.

     

     

     

    1935 - Santa Cecília Padroeira nossa.

    A cópia autógrafa enviada à Junta de Educação Nacional exibia o título: Corais a Santa Cecília no. 1, indicação clara do intento de escrever outros corais sobre o mesmo assunto; (de facto, existe entre os autógafos o esboço de um segundo coral dedicado à santa, que nunca foi completado Miranda 2004, 125). O texto em prosa provém, quase certamente, de oração impressa numa pagela da santa. A escrita vocal realiza equilíbrio delicado entre os valores harmónicos, imitativos, e de descrição de palavras do texto. Cremos que uma interpretação que dê primazia discreta às linhas da polifonia será a que melhor resulte quanto à preservação de tal equilíbrio.

    1936 - Em Belém vila do Amor.   Obra escrita em Paris, sobre texto do Auto da Feira, de Gil Vicente. No fim do auto, ficando em cena o Serafim com as moças dos montes, estas dão fim à feira, mas não sem primeiro cantarem uma cantiga de louvor à Virgem, \"ordenadas em folia\". A cantiga divide-

    -se por dois coros que a glosam alternadamente, em estilo paralelístico. Croner de Vasconcellos utilizou apenas uma sextina do texto do primeiro coro.

    No tom de Ré, e modo de sol (mixolídio), é muito curta, e de uma pureza quase hierática, acentuada pelo uso cristalino de acordes de sétima, muitos deles sem preparação. E nem lhe falta aquela dissonância agridoce, por que mostrou predilecção - o acorde contendo, simultaneamente, a 3.ª maior e a 3.ª menor sobre a mesma nota do baixo.

     

    1937 - Fermoso Tejo meu.   Enquanto o soneto seguinte, de Camões, nos introduz ao conflito do poeta, dividido entre o prazer e a pena, este, de Francisco Rodrigues Lobo, convida-nos a acompanhá-lo ao meditar sobre a oposição aparente entre a renovação cíclica da natureza à sua volta (simbolizada peloTejo) e o caminhar da sua vida para uma meta sem retorno. Meditação sem sobresaltos de dor, e cuja melancolia é compensada pelo manejar hábil dos conceitos, e a rima serena, imperturbável, correndo ao longo do soneto.

    Croner de Vasconcellos encontrou uma fórmula que corresponde bem ao esquema do soneto: o ritmo fluido do texto, em que predominam as colcheias, evoca o correr das águas do Tejo, enquanto o ritmo harmónico, mais lento - uma ou duas harmonias por compasso - se adapta perfeitamente ao carácter medido da meditação. E se algum risco houvesse de monotonia, tal escolho foi eliminado, acima de tudo, pelo papel reservado ao Baixo. Este, a partir do verso \"A ti foi-te trocando a grossa enchente\", inicia uma linha cromática descendente, interrompida a meio pela queda do intervalo de terceira, que nos faz palpar, eloquentemente, a realidade da morte que a todos espreita.

     

    1937 – A fermosura desta fresca serra.   Obra escrita em Paris, em Janeiro daquele ano, juntamente com Fermoso Tejo meu, e a primeira Tocata a Carlos Seixas (piano), ao mesmo tempo que orquestrava o bailado A Faina do Mar (grande orquestra).

    É provável que, para além das suas qualidades intrínsecas, este soneto camoniano tenha atraido Croner de Vasconcellos pelo facto de inspirar-se, quase certamente, na serra de Sintra, como revelam as alusões nele ao \"rouco som do mar\", e \"das nuvens pelo ar a branda guerra\". Sintra ficara indelevelmente ligada, para o compositor, às memórias dos tempos felizes de juventude passados à beira da serra, em Fanares, Colares, ou Sintra (Miranda 1992, 53-5, 85). Por acréscimo, contém em si uma oposição dramática, que porventura espelharia a discordânca entre aquelas memórias e a situação presente de exilado em terra estranha, assoberbado de trabalho e preocupações de saúde. Com efeito, a serenidade bucólica da primeira parte do soneto, espraiando-se através de duas únicas rimas suavemente emparelhadas, é perturbada e subvertida pela dissonância dos dois tercetos, com três rimas cruzadas, traduzindo as emoções da alma saudosa. O método escolhido pelo compositor a fim de recriar o ambiente literário do soneto é ao mesmo tempo simples e convincente. Em primeiro lugar, esbateu o foco tonal, centrando a composição em torno do modo menor natural em Mi, com um toque de dório. Confiou depois a exposição ao trio - SAT - (o Baixo aparece pela primeira vez no começo da segunda quadra, a traduzir \"o rouco som do mar\"), tendo o cuidado de manter a entrada de cada voz aquém do âmbito do modo. Criou assim um ambiente de ambiguidade tonal, que confere desde logo à composição um carácter deslizante. O discurso musical resultante é dotado de grande maleabilidade, traduzindo sem esforço os matizes do texto, incluindo bom número de casos de realismo expressivo. No princípio do último terceto, quando se prepara o desfecho da antinomia central do soneto - a saber, que às \"mores alegrias\" corresponde \"mor tristeza\" - a composição atinge a sub- versão total aparente do centro tonal, opondo agora Mi bemol, ao Mi menor natural inicial. E no entanto, é essa mesma distância extrema que lhe permite, mediante uso de enarmonia - Dó bemol converte-se em Si natural - fechar o círculo e restabelecer a tonalidade inicial.

     

    1974 - Oito Cantos de Natal. Obra escrita em Lisboa, de Agosto a Outubro daquele ano, consistindo na harmo- nização de melodias tradicionais, destinada pelo autor ao Coro Infantil Gulbenkian, por sugestão da sua antiga aluna, e dirigente do coro, Leonor Moura Esteves, que recolhera ela mesma as melodias.

    À excepção do número 8, de tendência fortemente tonal, traindo modelos dos séculos 18 ou 19, as melodias dos restantes cantos de Natal revelam influências muito mais antigas, provavelmente, de raiz litúrgica.

    O estilo adoptado para as harmonizações é predominantemente homofónico, embora haja pequenas passagens em estilo imitativo. Nota-se um esforço consciente de simplicidade, obtida sem sacrifício do colorido delicado característico da paleta do compositor. 1. Conto do Natal - Jesus, Maria, José. (Cardigos) 3 vozes.  Allegretto. Modo frígio em Fá sustenido. 2. Janeiras. (Alvoco da Beira) 3 vozes.  Non troppo vivo. Modo menor natural em Lá. Existem na Serra da Estrela, ou nas suas faldas, dois lugares de nome Alvoco - Alvoco da Serra, e Alvoco das Várzeas - pelo que subsiste a dúvida de qual deles proveio esta melodia, já que ambos se situam na Beira. Na sua forma mais desenvolvida o canto das janeiras compreendia quatro partes:

    1. Introdução - desejando Boas Festas; 2. Apresentação do assunto religioso - o Nascimento, ou os Reis; 3. Quadras improvisadas dirigidas a cada um dos destinatários presentes;

    4. Fecho. (Maria Arminda Zaluar Nunes 1978, 61). A versão utilizada nesta composição limita-se, condensando-as, às partes 1 e 2. (1)

    3. Sou cigana. (Elvas)   3 vozes.  Andante. Modo frígio em Mi. 4. O menino está deitado. (Elvas) 4 vozes.  Calmo. Modo maior em Lá. 5. Loa alentejana. (Évora) 4 vozes.  Calmo. Modo menor natural em Lá. 6. Ah, meu menino Jesus. (Madeira) 3 vozes.  Moderado. Modo menor natural em Mi. 7. Eu hei-de dar. (Évora)     4 vozes.  Lento. Modo frígio em Fá sustenido. 8. Natal. (Elvas) 4 vozes.  Moderado. Modo maior em Dó.

    1972 - Erros meus. Composto em Lisboa, para orgão e coro ao unísono, sendo a melodia dobrada pela linha superior do acompanhamento; o texto é o do soneto de Camões: Erros meus, má fortuna, amor ardente. A tónica da composição é Ré, com papel de relevo para Si bemol. A composição adopta o esquema AAB. Enquanto a música da primeira quadra é repetida quase inalterada pela segunda, os dois tercetos foram tratados como um conjunto, em que sobressai a oposição de grandes linhas, a escolha de colorido mais claro e vibrante, e em geral um movimento e intensidade que exploram as possibilidades monumentais da forma adoptada.

    1934-35 (?) - Lembranças tristes, p'ra que gastais tempo. Durante os trabalhos para a reunião desta colecção, revelou-se a existência de outra obra para coro a cappella, sem data, atribuível ao compositor, embora não constasse do seu espólio conhecido incluído no Catálogo razoado da obra musical, BN, 2004. Deveu-se tal revelação ao seu possuidor actual, o Prof. do Conservatório Nacional, João Pedro Mendes dos Santos, que gentilmente a facultou aos editores. Trata-se da fotocópia de um manuscrito em cujo frontispício se lê: Jorge Croner de Vasconcellos / Soneto de Rodrigues Lôbo / \"Lembranças tristes\" / para coro a 5 vozes. Compreende a fotocópia quatro folhas soltas no formato A4 (278 x 215 mm) de um original escrito em papel de música de 24 pautas (de 3.5 x 168 mm na fotocópia). A cópia revela original danificado e com rasgões nos bordos que só num caso afectam brevemente o texto musical. A comparação da dimensão das pautas da cópia com as dos n.ºs 51 e 52 do Catálogo razoado, igualmente escritos em papel de 24 pautas, sugere a redução da fotocópia para entre 58% e 64% do formato original. Segundo o actual possuidor, tanto a proveniência como a data de aquisição da espécie são indeterminadas. Apresenta esta composição certas características iniludíveis. Em primeiro lugar, ostenta por cima da linha do soprano uma paráfrase livre do texto do poema, aliás incom- pleta, em língua francesa. Aparentemente escrita por outra mão (notam-se diferenças consideráveis no desenho dos aa, EE, rr, ss, ff, gg), em tinta mais escura (talvez pelo uso de aparo mais grosso), reza: O regrets sombres quelle [idée?] vous pousse / A fatiguer mon coeur plein de fatigue! / Qu'il vous suffise de voir ma lourde peine / Sans vouloir de moi d'autre mérite encore. / Calme mon âme vit de ce supplice / Elle a bien souffert et [sait?] s'y connaître / C'est pourquoi dans les maux qui me tourmentent / Je vois que toute gaîté m'est impossible / [falta o primeiro verso do 1.º terceto] / Qui a perdu toute espérance. A paráfrase interrompe-se definitivamente a partir do terceiro verso do 1.º terceto até o fim, embora ainda se tenha tentado o primeiro verso do 2.º terceto, mas riscado a paráfrase respectiva. Em segundo lugar, o manuscrito não é uma cópia limpa, mas um exemplar de tra- balho, como mostra a irregularidade na colocação das hastes descendentes - umas vezes à direita, outras vezes à esquerda da nota respectiva.

    Em terceiro lugar, revela desde o primeiro acorde a influência do estilo pianístico. De facto o ataque simultâneo, nas quatro vozes, do acorde, sem preparação - Si bemol, Sol sustenido, Mi natural, Si natural - para qualquer coro seria de execução problemática; complicada pela resolução para o acorde seguinte, com o Si bemol do baixo subindo a Fá, em vez de descer a Lá; e o Si natural do soprano subindo a Dó (criando a falsa relação de trítono com o baixo). Comparando com as outras composições do autor para coro a cappella, o contraste é flagrante. Naquelas, os encontros mais dissonantes, como quando duas vozes procedem entre si à distância de segunda maior (ou menor!), estão agenciados de maneira a torná-los facilmente cantáveis. Finalmente - e não se trata de pormenor despiciendo - a qualidade do texto deste soneto, com seu ar de cão correndo atrás da cauda, e passagens dificilmente inteligíveis como \"Trabalho em vão, cuidando empecer / a quem a esperança tem perdida [??]\" fica muito aquém da dos textos escolhidos para as outras obras a cappella do autor. Se, como parece, estamos em presença de um esboço parcialmente improvisado ao piano, permanece aberta a questão porque não terá sido trabalhado no sentido de adaptá-lo às exigências de um coro. Questão que ficará sem resposta definitiva, a menos que apareçam outros documentos corroborantes. Quanto à sua datação pode aventar-se uma hipótese moderadamente plausível. Croner de Vasconcellos e Armando José Fernandes chegaram a Paris como bolseiros a 2 de Março de 1934, uma 6.ª-feira, e não perderam tempo, alugando um piano e apresentando-se na École Normale para iniciar um rigoroso programa de estudos, na segunda-feira seguinte. Além de piano com Mme Latarse e Alfred Cortot, tinham harmonia, contraponto, e história da música com Nadia Boulanger, e composição com Paul Dukas (Miranda 1992, 87- 96). Consequentemente, dada a intensidade evidente desses trabalhos, pode surpreender que mais de um ano tenha passado antes de Croner de Vasconcellos enviar para Lisboa uma composição comprovativa do seu aproveitamento - Santa Cecília, Padroeira nossa, recebida em Lisboa a 3 de Julho de 1935 (Miranda 2004, 123). Teria a intensidade e dispersão de esforços por um programa tão variado de estudos impedido que se concentrasse na tarefa de composição? Tendo-o conhecido, e ouvido o que ele pensava do contacto com o talento musical impar de Nadia Boulanger, será mais provável que tal demora se radicasse no apuramento do seu sentido crítico, que lhe fazia passar ao crivo, e recusar, soluções que antes lhe tinham parecido aceitáveis. Por outro lado, em Julho de 1934 Croner de Vasconcellos fora abordado em Paris pelo Office International des Artistes, o qual, baseado em informações colhidas pelo seu representante de Lisboa, se mostrava interessado num programa incluindo composições suas (Miranda 1992, 92-93). Não custa imaginar que o bolseiro tenha decidido aproveitar tal oportunidade para compor uma ou mais peças novas, nomeadamente do género coral, alargando assim o repertório das suas composições, que à data consistia, principalmente, de algumas canções para canto e piano, uma peça para dois pianos, e o Poemêto Sinfónico.   Afigura-se plausível que Lembranças tristes esteja ligada a esse projecto de colaboração com o Office International des Artistes. A própria existência na partitura da paráfrase francesa do texto (exemplo único entre todas as suas outras partituras conhecidas) decerto faria sentido numa peça destinada a um público exclusivamente francês. Tampouco custa a imaginar que Croner de Vasconcellos cedo tenha concluído que a linguagem harmónica que o tinha servido bem nas peças instrumentais e para canto acompanhado, precisaria de ser reformulada, em vez de simplesmente importada no campo da polifonia vocal. Daí que provavelmente tenha abandonado o esboço de Lembranças tristes, e que não exista cópia limpa dessa composição. Ignora-se se a dita colaboração com o Office International des Artistes incluiu algumas peças suas; mas sabe-se que em Novembro desse ano o bolseiro solicitava do seu professor, Luís de Freitas Branco, autorização para incluir num desse programas três peças deste último - Sonata de Violoncelo, ou a 2.ª Sonata de Violino, e as Tentações de São Frei Gil (Miranda 1992, 93). Seja como for, a descoberta de Lembranças tristes, longe de irrelevante, vem ajudar a colmar uma lacuna sobre a actividade do compositor no período que antecede o envio da sua primeira composição como bolseiro, em Julho de 1935.

     

    Gil Miranda

     

     

     

    (1)  É porventura interessante cotejar o texto destas Janeiras de Alvoco com o de umas colhidas por mim, cerca dos anos 50, de uma senhora (Celeste da Cunha e Silva) natural do concelho não muito distante de Carregal do Sal.

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    OBRAS PARA CORO A CAPPELLA

    Sendo a obra de Croner de Vasconcellos marcada mais pela qualidade do que pela quantidade, não é de estranhar que se depare nela uma certa descontinuidade de géneros musicais escolhidos. Estão nesse caso as composições para coro a cappella: enquanto Oito cantos de Natal foi escrita em 1974, último ano da sua vida, sendo aliás a última obra conhecida, todas as outras foram-no durante o período relativamente curto de formação em Paris (1934-37). Mesmo tomando em conta o facto da criação em 1972 de uma obra para coro ao unísono e orgão - Erros meus, sobre soneto de Camões - ainda essa composição aparece trinta e cinco anos decorridos sobre as últimas obras corais daquele período inicial. Tal fenómeno liga-se, muito provavelmente, às circunstâncias que rodearam o compositor nas alturas em questão. A estadia em Paris coincidiu com a época em que Croner de Vasconcellos e Ar- mando José Fernandes se dedicaram ao levantamento e transcrição para notação moderna de obras dos polifonistas portugueses do século XVII. De facto essa tarefa, iniciada em Portugal, continuou em Paris sob os auspícios da Junta de Educação Nacional e do Instituto para a Alta Cultura que lhe sucedeu; e, em 1939 apresentaram ao Instituto o primeiro volume dessa edição pronto para publicação, que aliás não veio a realizar-se (Miranda 1992, 99, 126-7, 244-5). Paralelamente, os estudos de harmonia e contraponto levados a cabo na École Normale de Musique, em Paris, senão também as lições com o compositor Roger Ducasse, terão focado decerto, como era tradicional, a escrita vocal a quatro partes. É possível que algumas daquelas composições tenham origem em devoirs de harmonia ou composição. Um Coral a Santa Cecília fora enviado para a Junta de Educação Nacional, em Lisboa, como prova de aproveitamento do primeiro ano de bolsa de estudo; Fermoso Tejo meu, e A fermosura desta fresca serra figuram entre as composições enviadas no ano seguinte (Miranda, ob.cit., 96-102,199-205). Uma vez de regresso a Portugal em 1937, a inexistêmcia entre nós de uma prática de qualidade de música vocal a cappella não terá deixado de pesar consideravelmente nas escolhas do compositor. O Coro Polyphonia dirigido por Mário de Sampayo Ribeiro atingira nível excelente, mas acantonara-se na música dos polifonistas dos séculos XVI e XVII, com alguma excursão esporádica aos séculos XVIII e XIX; mantinha-se, portanto, inacessível a obras do século XX. Decerto existiram outros agrupamentos corais, designadamente, em Lisboa, o Grupo Coral Harmonia, de Wilhelm Werner, ou o Stella Vitae; porém o nível das suas execuções não era de molde a criar motivação para um compositor com a exigência de Croner de Vasconcellos. Ora, quando a Fundação Gulbenkian criou, a partir dos anos 60, as condições para a existência de um coro de categoria profissional, logo Croner de Vasconcellos reagiu favoravelmente, escrevendo então Vilancico para a festa de Santa Cecília (coro e orquestra), e Oito cantos de Natal.

     

     

     

    1935 - Santa Cecília Padroeira nossa.

    A cópia autógrafa enviada à Junta de Educação Nacional exibia o título: Corais a Santa Cecília no. 1, indicação clara do intento de escrever outros corais sobre o mesmo assunto; (de facto, existe entre os autógafos o esboço de um segundo coral dedicado à santa, que nunca foi completado Miranda 2004, 125). O texto em prosa provém, quase certamente, de oração impressa numa pagela da santa. A escrita vocal realiza equilíbrio delicado entre os valores harmónicos, imitativos, e de descrição de palavras do texto. Cremos que uma interpretação que dê primazia discreta às linhas da polifonia será a que melhor resulte quanto à preservação de tal equilíbrio.

    1936 - Em Belém vila do Amor.   Obra escrita em Paris, sobre texto do Auto da Feira, de Gil Vicente. No fim do auto, ficando em cena o Serafim com as moças dos montes, estas dão fim à feira, mas não sem primeiro cantarem uma cantiga de louvor à Virgem, \"ordenadas em folia\". A cantiga divide-

    -se por dois coros que a glosam alternadamente, em estilo paralelístico. Croner de Vasconcellos utilizou apenas uma sextina do texto do primeiro coro.

    No tom de Ré, e modo de sol (mixolídio), é muito curta, e de uma pureza quase hierática, acentuada pelo uso cristalino de acordes de sétima, muitos deles sem preparação. E nem lhe falta aquela dissonância agridoce, por que mostrou predilecção - o acorde contendo, simultaneamente, a 3.ª maior e a 3.ª menor sobre a mesma nota do baixo.

     

    1937 - Fermoso Tejo meu.   Enquanto o soneto seguinte, de Camões, nos introduz ao conflito do poeta, dividido entre o prazer e a pena, este, de Francisco Rodrigues Lobo, convida-nos a acompanhá-lo ao meditar sobre a oposição aparente entre a renovação cíclica da natureza à sua volta (simbolizada peloTejo) e o caminhar da sua vida para uma meta sem retorno. Meditação sem sobresaltos de dor, e cuja melancolia é compensada pelo manejar hábil dos conceitos, e a rima serena, imperturbável, correndo ao longo do soneto.

    Croner de Vasconcellos encontrou uma fórmula que corresponde bem ao esquema do soneto: o ritmo fluido do texto, em que predominam as colcheias, evoca o correr das águas do Tejo, enquanto o ritmo harmónico, mais lento - uma ou duas harmonias por compasso - se adapta perfeitamente ao carácter medido da meditação. E se algum risco houvesse de monotonia, tal escolho foi eliminado, acima de tudo, pelo papel reservado ao Baixo. Este, a partir do verso \"A ti foi-te trocando a grossa enchente\", inicia uma linha cromática descendente, interrompida a meio pela queda do intervalo de terceira, que nos faz palpar, eloquentemente, a realidade da morte que a todos espreita.

     

    1937 – A fermosura desta fresca serra.   Obra escrita em Paris, em Janeiro daquele ano, juntamente com Fermoso Tejo meu, e a primeira Tocata a Carlos Seixas (piano), ao mesmo tempo que orquestrava o bailado A Faina do Mar (grande orquestra).

    É provável que, para além das suas qualidades intrínsecas, este soneto camoniano tenha atraido Croner de Vasconcellos pelo facto de inspirar-se, quase certamente, na serra de Sintra, como revelam as alusões nele ao \"rouco som do mar\", e \"das nuvens pelo ar a branda guerra\". Sintra ficara indelevelmente ligada, para o compositor, às memórias dos tempos felizes de juventude passados à beira da serra, em Fanares, Colares, ou Sintra (Miranda 1992, 53-5, 85). Por acréscimo, contém em si uma oposição dramática, que porventura espelharia a discordânca entre aquelas memórias e a situação presente de exilado em terra estranha, assoberbado de trabalho e preocupações de saúde. Com efeito, a serenidade bucólica da primeira parte do soneto, espraiando-se através de duas únicas rimas suavemente emparelhadas, é perturbada e subvertida pela dissonância dos dois tercetos, com três rimas cruzadas, traduzindo as emoções da alma saudosa. O método escolhido pelo compositor a fim de recriar o ambiente literário do soneto é ao mesmo tempo simples e convincente. Em primeiro lugar, esbateu o foco tonal, centrando a composição em torno do modo menor natural em Mi, com um toque de dório. Confiou depois a exposição ao trio - SAT - (o Baixo aparece pela primeira vez no começo da segunda quadra, a traduzir \"o rouco som do mar\"), tendo o cuidado de manter a entrada de cada voz aquém do âmbito do modo. Criou assim um ambiente de ambiguidade tonal, que confere desde logo à composição um carácter deslizante. O discurso musical resultante é dotado de grande maleabilidade, traduzindo sem esforço os matizes do texto, incluindo bom número de casos de realismo expressivo. No princípio do último terceto, quando se prepara o desfecho da antinomia central do soneto - a saber, que às \"mores alegrias\" corresponde \"mor tristeza\" - a composição atinge a sub- versão total aparente do centro tonal, opondo agora Mi bemol, ao Mi menor natural inicial. E no entanto, é essa mesma distância extrema que lhe permite, mediante uso de enarmonia - Dó bemol converte-se em Si natural - fechar o círculo e restabelecer a tonalidade inicial.

     

    1974 - Oito Cantos de Natal. Obra escrita em Lisboa, de Agosto a Outubro daquele ano, consistindo na harmo- nização de melodias tradicionais, destinada pelo autor ao Coro Infantil Gulbenkian, por sugestão da sua antiga aluna, e dirigente do coro, Leonor Moura Esteves, que recolhera ela mesma as melodias.

    À excepção do número 8, de tendência fortemente tonal, traindo modelos dos séculos 18 ou 19, as melodias dos restantes cantos de Natal revelam influências muito mais antigas, provavelmente, de raiz litúrgica.

    O estilo adoptado para as harmonizações é predominantemente homofónico, embora haja pequenas passagens em estilo imitativo. Nota-se um esforço consciente de simplicidade, obtida sem sacrifício do colorido delicado característico da paleta do compositor. 1. Conto do Natal - Jesus, Maria, José. (Cardigos) 3 vozes.  Allegretto. Modo frígio em Fá sustenido. 2. Janeiras. (Alvoco da Beira) 3 vozes.  Non troppo vivo. Modo menor natural em Lá. Existem na Serra da Estrela, ou nas suas faldas, dois lugares de nome Alvoco - Alvoco da Serra, e Alvoco das Várzeas - pelo que subsiste a dúvida de qual deles proveio esta melodia, já que ambos se situam na Beira. Na sua forma mais desenvolvida o canto das janeiras compreendia quatro partes:

    1. Introdução - desejando Boas Festas; 2. Apresentação do assunto religioso - o Nascimento, ou os Reis; 3. Quadras improvisadas dirigidas a cada um dos destinatários presentes;

    4. Fecho. (Maria Arminda Zaluar Nunes 1978, 61). A versão utilizada nesta composição limita-se, condensando-as, às partes 1 e 2. (1)

    3. Sou cigana. (Elvas)   3 vozes.  Andante. Modo frígio em Mi. 4. O menino está deitado. (Elvas) 4 vozes.  Calmo. Modo maior em Lá. 5. Loa alentejana. (Évora) 4 vozes.  Calmo. Modo menor natural em Lá. 6. Ah, meu menino Jesus. (Madeira) 3 vozes.  Moderado. Modo menor natural em Mi. 7. Eu hei-de dar. (Évora)     4 vozes.  Lento. Modo frígio em Fá sustenido. 8. Natal. (Elvas) 4 vozes.  Moderado. Modo maior em Dó.

    1972 - Erros meus. Composto em Lisboa, para orgão e coro ao unísono, sendo a melodia dobrada pela linha superior do acompanhamento; o texto é o do soneto de Camões: Erros meus, má fortuna, amor ardente. A tónica da composição é Ré, com papel de relevo para Si bemol. A composição adopta o esquema AAB. Enquanto a música da primeira quadra é repetida quase inalterada pela segunda, os dois tercetos foram tratados como um conjunto, em que sobressai a oposição de grandes linhas, a escolha de colorido mais claro e vibrante, e em geral um movimento e intensidade que exploram as possibilidades monumentais da forma adoptada.

    1934-35 (?) - Lembranças tristes, p'ra que gastais tempo. Durante os trabalhos para a reunião desta colecção, revelou-se a existência de outra obra para coro a cappella, sem data, atribuível ao compositor, embora não constasse do seu espólio conhecido incluído no Catálogo razoado da obra musical, BN, 2004. Deveu-se tal revelação ao seu possuidor actual, o Prof. do Conservatório Nacional, João Pedro Mendes dos Santos, que gentilmente a facultou aos editores. Trata-se da fotocópia de um manuscrito em cujo frontispício se lê: Jorge Croner de Vasconcellos / Soneto de Rodrigues Lôbo / \"Lembranças tristes\" / para coro a 5 vozes. Compreende a fotocópia quatro folhas soltas no formato A4 (278 x 215 mm) de um original escrito em papel de música de 24 pautas (de 3.5 x 168 mm na fotocópia). A cópia revela original danificado e com rasgões nos bordos que só num caso afectam brevemente o texto musical. A comparação da dimensão das pautas da cópia com as dos n.ºs 51 e 52 do Catálogo razoado, igualmente escritos em papel de 24 pautas, sugere a redução da fotocópia para entre 58% e 64% do formato original. Segundo o actual possuidor, tanto a proveniência como a data de aquisição da espécie são indeterminadas. Apresenta esta composição certas características iniludíveis. Em primeiro lugar, ostenta por cima da linha do soprano uma paráfrase livre do texto do poema, aliás incom- pleta, em língua francesa. Aparentemente escrita por outra mão (notam-se diferenças consideráveis no desenho dos aa, EE, rr, ss, ff, gg), em tinta mais escura (talvez pelo uso de aparo mais grosso), reza: O regrets sombres quelle [idée?] vous pousse / A fatiguer mon coeur plein de fatigue! / Qu'il vous suffise de voir ma lourde peine / Sans vouloir de moi d'autre mérite encore. / Calme mon âme vit de ce supplice / Elle a bien souffert et [sait?] s'y connaître / C'est pourquoi dans les maux qui me tourmentent / Je vois que toute gaîté m'est impossible / [falta o primeiro verso do 1.º terceto] / Qui a perdu toute espérance. A paráfrase interrompe-se definitivamente a partir do terceiro verso do 1.º terceto até o fim, embora ainda se tenha tentado o primeiro verso do 2.º terceto, mas riscado a paráfrase respectiva. Em segundo lugar, o manuscrito não é uma cópia limpa, mas um exemplar de tra- balho, como mostra a irregularidade na colocação das hastes descendentes - umas vezes à direita, outras vezes à esquerda da nota respectiva.

    Em terceiro lugar, revela desde o primeiro acorde a influência do estilo pianístico. De facto o ataque simultâneo, nas quatro vozes, do acorde, sem preparação - Si bemol, Sol sustenido, Mi natural, Si natural - para qualquer coro seria de execução problemática; complicada pela resolução para o acorde seguinte, com o Si bemol do baixo subindo a Fá, em vez de descer a Lá; e o Si natural do soprano subindo a Dó (criando a falsa relação de trítono com o baixo). Comparando com as outras composições do autor para coro a cappella, o contraste é flagrante. Naquelas, os encontros mais dissonantes, como quando duas vozes procedem entre si à distância de segunda maior (ou menor!), estão agenciados de maneira a torná-los facilmente cantáveis. Finalmente - e não se trata de pormenor despiciendo - a qualidade do texto deste soneto, com seu ar de cão correndo atrás da cauda, e passagens dificilmente inteligíveis como \"Trabalho em vão, cuidando empecer / a quem a esperança tem perdida [??]\" fica muito aquém da dos textos escolhidos para as outras obras a cappella do autor. Se, como parece, estamos em presença de um esboço parcialmente improvisado ao piano, permanece aberta a questão porque não terá sido trabalhado no sentido de adaptá-lo às exigências de um coro. Questão que ficará sem resposta definitiva, a menos que apareçam outros documentos corroborantes. Quanto à sua datação pode aventar-se uma hipótese moderadamente plausível. Croner de Vasconcellos e Armando José Fernandes chegaram a Paris como bolseiros a 2 de Março de 1934, uma 6.ª-feira, e não perderam tempo, alugando um piano e apresentando-se na École Normale para iniciar um rigoroso programa de estudos, na segunda-feira seguinte. Além de piano com Mme Latarse e Alfred Cortot, tinham harmonia, contraponto, e história da música com Nadia Boulanger, e composição com Paul Dukas (Miranda 1992, 87- 96). Consequentemente, dada a intensidade evidente desses trabalhos, pode surpreender que mais de um ano tenha passado antes de Croner de Vasconcellos enviar para Lisboa uma composição comprovativa do seu aproveitamento - Santa Cecília, Padroeira nossa, recebida em Lisboa a 3 de Julho de 1935 (Miranda 2004, 123). Teria a intensidade e dispersão de esforços por um programa tão variado de estudos impedido que se concentrasse na tarefa de composição? Tendo-o conhecido, e ouvido o que ele pensava do contacto com o talento musical impar de Nadia Boulanger, será mais provável que tal demora se radicasse no apuramento do seu sentido crítico, que lhe fazia passar ao crivo, e recusar, soluções que antes lhe tinham parecido aceitáveis. Por outro lado, em Julho de 1934 Croner de Vasconcellos fora abordado em Paris pelo Office International des Artistes, o qual, baseado em informações colhidas pelo seu representante de Lisboa, se mostrava interessado num programa incluindo composições suas (Miranda 1992, 92-93). Não custa imaginar que o bolseiro tenha decidido aproveitar tal oportunidade para compor uma ou mais peças novas, nomeadamente do género coral, alargando assim o repertório das suas composições, que à data consistia, principalmente, de algumas canções para canto e piano, uma peça para dois pianos, e o Poemêto Sinfónico.   Afigura-se plausível que Lembranças tristes esteja ligada a esse projecto de colaboração com o Office International des Artistes. A própria existência na partitura da paráfrase francesa do texto (exemplo único entre todas as suas outras partituras conhecidas) decerto faria sentido numa peça destinada a um público exclusivamente francês. Tampouco custa a imaginar que Croner de Vasconcellos cedo tenha concluído que a linguagem harmónica que o tinha servido bem nas peças instrumentais e para canto acompanhado, precisaria de ser reformulada, em vez de simplesmente importada no campo da polifonia vocal. Daí que provavelmente tenha abandonado o esboço de Lembranças tristes, e que não exista cópia limpa dessa composição. Ignora-se se a dita colaboração com o Office International des Artistes incluiu algumas peças suas; mas sabe-se que em Novembro desse ano o bolseiro solicitava do seu professor, Luís de Freitas Branco, autorização para incluir num desse programas três peças deste último - Sonata de Violoncelo, ou a 2.ª Sonata de Violino, e as Tentações de São Frei Gil (Miranda 1992, 93). Seja como for, a descoberta de Lembranças tristes, longe de irrelevante, vem ajudar a colmar uma lacuna sobre a actividade do compositor no período que antecede o envio da sua primeira composição como bolseiro, em Julho de 1935.

     

    Gil Miranda

     

     

     

    (1)  É porventura interessante cotejar o texto destas Janeiras de Alvoco com o de umas colhidas por mim, cerca dos anos 50, de uma senhora (Celeste da Cunha e Silva) natural do concelho não muito distante de Carregal do Sal.

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