Picc, 2 Fl, 2 Ob, 2 Cl Sib, 2 Bsn, 2 Hn F, 3 Tpt C, Tbn, Tbn B, Timp, Xyl, T B, 2 Perc, Pno, Strings
Duração: 27'
O chamado experimentalismo talvez possa equivaler, no domínio das artes, à importantíssima missão dos eruditos que buscam e coligem documentos de que outros irão mais tarde servir-se para escreverem a História.
Desde que encarada com a devida honestidade de princípios, a acção dos historiadores e dos investigadores - tal como a dos artistas e dos experimentadores de novas possíveis abordagens da linguagem estética - é sempre credora do maior respeito.
Entretanto, não há que negar - nem que escamotear - que se verifica uma clara diferença entre as funções concretas de um historiador e de um criador em comparação com o trabalho exercido pelos diversos tipos de pesquisador.
Tal como o historiador tem o dever de verificar a validade das fontes que o orientam, também convém que o artista desenvolva uma certa capacidade de pesquisa, não se limitando a interpretar e utilizar os dados que lhe foram transmitidos: mas trata-se de metodologias de trabalho algo diferentes e, por vezes, até marcadas por um certo antagonismo de pró-cessos.
Nunca deixarei de salientar o fascínio exercido em mim pela multi-plicidade de opções estéticas que a música do sec.XX nos legou, devendo-se uma boa parte desse fenómeno ao labor de pesquisadores.
Contudo, também se assistiu, dentro de certos terrenos, a uma sobre-valorização - ou errada interpretação - do puro experimentalismo, con-fundindo essa actividade a vários títulos meritória, como já disse, com a arte de um verdadeiro compositor.
Ora, é evidente que uma tal atitude não poderia deixar de enfraquecer a causa da música de qualidade, transformada a pouco e pouco em produto de laboratório, com toda a consequente deserção de um público não necessariamente especializado, mas honesto e, sobretudo, não hipócrita nos seus bravos e aplausos perante aquilo que não entende.
Nalguns casos, esse material nem sequer se destina a ser entendido e existe apenas ( o que já não é pouco, repita-se…) para fornecer elementos que os músicos virão mais tarde a trabalhar - e a transformar em música.
De facto, chega sempre um momento em que se torna necessário aplicar em obras autênticas - e não apenas em esboços sonoros eventualmente interessantes - todo o vasto manancial de experiências acu-muladas.Como dizia D.João II, “há tempos de coruja e tempos de falcão”…
Do mesmo modo, também há tempos em que é conveniente e neces-sário pesquisar, pois isso faz parte da formação profissional de qualquer músico. Mas lá vêm outros tempos em que aqueles que tiverem aptidões para isso deverão assumir-se realmente como compositores.
Esta Sinfonia nº3 - encomendada para celebrar uma data histórica da minha muito querida cidade de Viana do Castelo - é apenas mais um exemplo dos princípios que defendo, podendo apenas salientar a utilização no quarto andamento de um material temático que estivera até aí exclusivamente adstrito à banda sonora do meu filme “A Culpa”.
É mais um exemplo da tendência que sempre senti para abordar diversos estilos dentro de uma mesma partitura - ou mesmo dentro de uma só página…- desde que assegure uma coerência estética que julgo fun-damental.
António Victorino D’Almeida