OUVIR EXCERTO
Quando eu chamo (propositadamente em alemão) “sonata vienense” a esta sonata, não deverá pensar-se que ela envolve qualquer espécie de referência à 2ª Escola de Viena, que muito mais homenageio, por exemplo, no Quarteto, no “Rêve d’un rêve” ou, sobretudo, no segundo andamento da Sonata de Viola.
Esta sonata será, isso sim, uma homenagem à própria cidade de Viena; mas, mais ainda, é uma homenagem à expressão verbal usada nessa cidade: o chamado dialecto vienense, que é uma linguagem rude, até marcada por um certo primitivismo - eu quase diria: um certo barbarismo...- , mas que se reveste também de uma paradoxal capacidade para expressar ternura e humor.
Há efectivamente situações e sentimentos que poucos idiomas poderão exprimir com tanta eficácia e com uma tão grande riqueza onomatopaica como o “Wiener Dialekt”.
Como peça musical, esta sonata é dedicada ao instrumentista que a estreou: António Costa. Mas há nela uma outra dedicatória subjacente ao meu amigo e genial actor austríaco Fritz Muliar (inesquecível criador na televisão da figura do “Bravo Soldado Schweik”) , que é um mestre nessa arte de se expressar no dialecto da cidade de Viena…
Terá talvez sido um desejo utópico, mas o facto é que pretendi que a música desta sonata fosse em “dialecto vienense”, criando uma simbiose entre a “alta cultura” representada pelo piano e a rudeza (simultaneamente comovente) de uma linguagem de raíz popular que é entregue à trompa.
Daí também a citação constante de uma das mais populares canções de folclore urbano vienense.
António Victorino D’Almeida