Obra vencedora do 1º Prémio da Categoria 'Música para Orquestra' do 4º Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim. Estreada em 24 de Julho de 2009 no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, pela Orquestra Sinfónica da Póvoa de Varzim sob direcção musical de Pedro Amaral, em concerto integrado na 31ª edição do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim.
NOTAS DO COMPOSITOR
“This is not a poem…” (2009)
Na procura de uma catarse emocional, surge novamente uma peça que explora até à exaustão o meu EU, retratando desta vez algumas emoções experienciadas durante 2008. Momentos noctívagos pautados pela solidão em confronto com a minha ansiedade e com os meus medos.
Sem saber como, deparo-me com um novo elemento, The only poem de Leonard Cohen. O seu conteúdo, o ambiente retratado no poema, produzem em mim uma espécie de “clique” emocional que servirá de ponto de partida para a construção desta obra.
This is not a poem divide-se em quatro secções – A B C (A'/D) - (cada uma com duas partes), diferenciadas pela sua textura orquestral e interligadas através do pensamento harmónico e melódico composto pela ordem intervalar: 2ª m, 2ª M, 3ª m, 3ª M, 4ª P e 4ª A. Assim, estes componentes micro-estruturais que iniciam com uma dissonância, através da 2ª m, percorrendo intervalos mais consonantes até encontrar novamente a dissonância na 4ª A, irão influenciar a macro-estrutura desta obra.
Na primeira parte da secção A (c. 1 ao c. 17), os medos e ansiedades estão fortemente representados. O EU é praticamente imperceptivel, denotando fragilidade. A aleatoriedade sonora aliada à confusão de texturas simboliza este momento conturbado. A segunda parte da secção (c. 18 ao c. 45), expõe o confronto entre o racional e o emocional, à procura de algum equilibrio. O EU, representado pelo clarinete baixo, é impelido a reagir através dos pizz. e ricochet nos registos graves.
A secção B (c. 46 ao c. 73), relembra a leitura do poema, é a secção mais melódica da obra. O inconfundível registo grave da voz de Leonard Cohen surge através dos contrabaixos. Aqui, os glissandi das cordas, simbolizam a difusão de energia.
Na secção C (c. 74 ao c. 111) emergem as lembranças do passado. Embora pontualmente surjam motivos da secção A e B, existe uma maior clareza em termos harmónicos, é menos dissonante. A simplicidade do trabalho apresentado pela flauta e flautim (c. 92 ao c. 106) através da repetição rítmica e melódica, representam a visão mais “naif” do passado. No c. 107 entra o clarinete baixo produzindo uma escala que relembra os problemas iniciais espalhando-os em seguida por toda a orquestra.
A secção D (A' ) é a partir do c. 112, marca o fim do círculo regressando ao ponto de partida. Este novo contacto com os medos e com a ansiedade é assumido de forma mais consciente, mais vigorosa.
Os fortissimi do tutti de orquestra, a partir do c. 125, assinalam este momento, onde o EU é aceite com as suas potencialidades e fragilidades.
Nuno Peixoto de Pinho, Abril de 2008