Trio para clarinete, violoncelo e piano -- in memoriam Constança Capdeville (2012)
Andamentos (sem interrupção):
1. Mesto
2. Furioso -- Adagio: die Nachtigall
3. ...der Abschied
ca. 19'
Ao Trio A Piacere
Notas sobre a obra:
Escrevi esta peça como homenagem à memória da minha querida professora Constança Capdeville, com quem estudei na ESML, e que faleceu cedo demais em 1992. Vinte anos depois, a sua presença ainda me acompanha, e o seu exemplo de rigor, seriedade, profissionalismo e curiosidade artística ainda são força de lei para mim. Com Fernando Lopes-Graça, a Constança foi sem dúvida a personalidade musical mais marcante, no que diz respeito à composição, que tive a sorte de conhecer com alguma intimidade, tendo ainda colaborado nos últimos anos nalguns espectáculos por ela imaginados. A formação de clarinete, violoncelo e piano, no repertório da qual avulta o trio de Brahms e pouco mais, já havia sido usada por mim antes, no Berliner Trio de 2004, uma encomenda do Trio Mediterrain, que se debatia, como seria de esperar, com falta de repertório original. Essa peça tem sido bastante tocada, dentro e fora de Portugal, e está inclusivamente gravada em CD. Porém, não é uma formação fácil, e somente agora, oito anos volvidos, resolvi -- novamente com a motivação de um pedido do "Trio A Piacere" - revisitá-la. O novo trio tem uma estrutura fragmentada, feita de alusões e memórias, e apropria-se, no último andamento, de dois pequenos gestos do "adagio" do trio de Brahms, e a partir daí a música despede-se do mundo; em silêncio, como a Constança fez. Nas palavras do meu querido amigo Eurico Carrapatoso, excelso compositor que com ela também estudou, a Constança era "um anjo que voava baixinho". A música outonal do último Brahms espalha a sua sombra melancólica pelo meu trio, um gesto simbólico, uma dupla homenagem que a Constança teria decerto apreciado.