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Interlúdio 1, para grande orquestra (2007) desenvolve-se sobre uma sequência de três partes definidas em função do seu conteúdo intervalar, melódico e harmónico. Em cada uma das três partes, melodia e harmonia são construídas fazendo uso de um conjunto limitado de intervalos. Alguns intervalos são exclusivos de uma das três partes, contribuindo para as caracterizar; outros surgem em duas das três, constituindo-se como elemento de ligação entre as partes; outros ainda são comuns às três partes – variando, contudo, a forma de os realizar – e funcionam como elementos de coesão harmónica e melódica de toda a peça, conferindo-lhe unidade.
Porém, sobre este pano de fundo harmónico e melódico, outros acontecimentos se desenrolam, cuja evolução permite dividir a peça em várias secções. Estas secções são definidas pelo uso de diversos modos de apresentar o material intervalar.
Estamos, portanto, perante a sobreposição de duas estruturas autónomas, sendo que uma – a intervalar – condiciona o conteúdo harmónico e melódico da segunda estrutura, a qual se define pelo modo de enunciação do discurso musical.
No fundo, a base harmónica, com as suas três partes, funciona – utilizando terminologia da música tonal – como uma sucessão de três tonalidades, sobre as quais se vão definindo acordes, melodias, ornamentos, articulações, dinâmica, em suma, toda a panóplia de elementos que constituem a gramática musical.
A peça começa com uma breve introdução, à qual se seguem duas secções em que o elemento discursivo principal é o acorde – nas quais o material intervalar é apresentado na sua forma mais simples, em estado bruto, findas as quais surge, a cargo dos primeiros violinos, o esboço de uma melodia, primeiro timidamente, depois de forma mais afirmativa.
Quando a melodia se afirmou como elemento discursivo de pleno direito, dá-se um acontecimento relevante: muda o material intervalar harmónico e melódico, o que marca o início da segunda parte da peça.
É importante assinalar que por esta altura se inicia um processo fulcral para o desenrolar da peça: uma melodia é apresentada sucessivamente nos violinos e nas violetas em versões ligeiramente modificadas no ritmo, processo designado heterofonia. Importantes para a definição dessas melodias são as articulações: a sua função não é meramente enfática e expressiva: as articulações são elementos caracterizadores das melodias e serão as protagonistas de um outro tipo de heterofonia: em vez de várias versões de uma melodia em sucessão, é uma mesma melodia – mesmas notas, mesmo ritmo – que é enunciada mas com articulações e dinâmicas diferentes, processo que designaria heterofonia de articulações.
Ao longo da peça, estes dois tipos de heterofonia confrontam-se, vindo a prevalecer a heterofonia de articulações.
O início da terceira parte da peça – dominado por um novo conjunto de intervalos – é marcado pela emergência das trompas e da tuba enunciando uma melodia ascendente, que é simultaneamente uma forma elementar de apresentar um campo harmónico: o harpejo, o qual virá a impor-se como modo de enunciação melódica e harmónica.
Das trompas e tuba passará para as palhetas duplas e, mesmo no final, surge nas harpas.
A peça termina com uma pequena coda, na qual o percurso harmónico de toda a peça é recapitulado sob a forma de três agregados, cada um característico de uma das suas três partes.
Luís Cardoso
http://www.youtube.com/watch?v=6Tiy2orCR_A