Fernando C. Lapa – Trilogia das Barcas de Gil Vicente
Compositor | Fernando Lapa
Adaptação de Textos | Sara Barros Leitão e Fernando Lapa
Fernando C. Lapa, Toy Ensemble
Clarinete e Clarinete Baixo | Ricardo Alves
Violoncelo | Jed Barahal
Piano | Christina Margotto
Viola e Violino | David Lloyd
Voz e Percussão | Magna Ferreira
Vozes | Mário Alves, Ângela Marques, Magna Ferreira, Pedro Telles
Gravação, edição , mistura e masterização | Rodolfo Cardoso
Direção musical | Fernando Lapa
Vídeo | Martin Lloyd
Fotografia | Martina Barahal
Design e Ilustração | Paulo Patrício
Os autos que compõem a Trilogia das Barcas de Gil Vicente são espectáculos musico-teatrais desenhados em formato de câmara, encomendados para a edição de 2018 dos Dias da Música, no Centro Cultural de Belém. Nas suas três obras distintas – Auto do Inferno, Auto do Purgatório e Auto da Glória – dois actores e cinco músicos partilham entre si tudo o que é apresentado no palco, saindo por vezes da sua própria esfera, trocando de papéis e funções. Desta forma foram retomadas algumas ideias condutoras: o caracter polifacetado, ágil e contrastante, que transparece da generalidade das cenas do Auto da Barca do Inferno; um exercício sobre a passagem do tempo – tempo de espera, de paciência, de esperança – interiorizado e emocionalmente intenso, que lemos no Auto da Barca do Purgatório; e a construção hierarquizada e progressiva, qual cerimonial da corte e da catedral, que marca todo o Auto da Barca da Glória.
Nas condições em que a proposta de criação da obra surgiu, pesou muito a vontade de fazer dela também um exercício de economia de meios. Dessa forma tudo se desenhou – tanto em termos musicais, como cénicos – para que apenas dois actores e cinco músicos se encarregassem de criar toda a complexa teia de mais de vinte personagens em todos os três autos, desdobrando-se nos mais diversos e contrastantes registos. Tal desafio levou a que se procurasse soluções musicais e cénicas capazes de tornarem viável esse propósito. Cada instrumentista participa também, de forma enfática, na composição de diversos personagens. Isso é particularmente evidente no Auto da Barca do Purgatório, no qual todas as cenas são introduzidas por um solo instrumental absoluto, tentativa de incarnação sonora de uma personagem e espécie de seu duplo em toda a cena. Existem também muitas outras situações em que o desempenho dos instrumentistas se combina com os actores. E todos cantam ou podem cantar.
Há diversos aspectos em que o trabalho sobre esta obra permite mudanças e ampliações, nomeadamente no que respeita ao número e tipo de vozes utilizadas (actores, solistas ou coro). O que se diz das vozes faladas ou cantadas, pode aplicar-se também relativamente à percussão. Muitas vezes as partituras não indicam expressamente quais os instrumentos de percussão a utilizar, de que tipo e em que número, pretendendo deixar a sua definição ao critério de cada produção, de acordo com os recursos
existentes. Assim, o número e tipo de instrumentos de percussão pode ser relativamente modificado, nomeadamente em muitas situações em que a percussão sublinha ou pode sublinhar algum elemento do texto e da acção. Desta forma há lugar para comentários ou intervenções da percussão, para além daqueles que estão previstos na partitura. O mesmo se diga do número de executantes.
A perspectiva original da obra também inclui a possibilidade de qualquer dos autos se preparar e apresentar com um número maior de actores ou de músicos. Isso poderá permitir que mais pessoas se envolvam na interpretação. Numa perspectiva pedagógica – e uma vez que os Autos das Barcas são obras com presença nos programas de estudo da língua portuguesa – também será possível apresentar apenas algumas selecções de cenas, de acordo com os recursos e contextos de cada produção.