[ 1976/ 1996/ 2016 ]
Duas décadas separam o meu nascimento da obra "1996" de R. Sakamoto. Duas mais separam "1996" de "2016". Para além da curiosa coincidência temporal, este padrão simboliza também um fenómeno que me fascina: a repetição. Descobri há pouco tempo uma citação do Bernardo Sassetti com a qual me identifico perfeitamente:
“Somos repetição
Somos repetição
Somos repetição
Somos repetição
E também somos tudo isto no sentido contrário
E também somos tudo isto no sentido contrário
E também somos tudo isto no sentido contrário”
Prende-me esta ideia de ciclo em torno de si próprio, de dimensões e proporções insondáveis. Quis em "2016" falar um pouco sobre isto.
Se "1996" e Sakamoto foram inspiração maior para o desiderato, não menos importante foi o desejo de homenagear alguns dos compositores que me marcaram ao longo do percurso como pianista: Chopin, Ligeti, Schubert, Piazzolla, Stravinsky, Schnitke, Carrapatoso, Sassetti. Homenageio também o meu caro e saudoso amigo José Luís Ferreira (J.L.F), que nos deixou demasiado cedo, e o meu pai Benjamim Fernando Almeida (B.F.A), que aos 8 anos me ensinou as primeiras notas e, não estando cá fisicamente, me acompanha todos os dias.
Foi em Outubro de 2016, na Cidade do México, que duas notas se fixaram no meu ouvido: Fá, Mi. Repetidamente, fá, mi. Assim começou "2016". Dedico-o aos directamente homenageados mas especialmente à minha família e aos amigos que acompanharam e apoiaram o processo.
As obras foram compostas maioritariamente durante as digressões que fiz entre 2016 e finais de 2018, razão pela qual associo a cada peça o nome da cidade onde a comecei a compor. Muito agradeço o apoio da Direcção Geral das Artes, Escola Superior de Música de Lisboa, Conservatório Nacional Escola Artística de Música, AVA Musical Editions - Nuno S Fernandes; ao Eduardo Jordão pelas preciosas orientações técnicas e artísticas; ao Mário Dinis Marques pelo incansável burilamento do CD; à Candice, ao Fabio e ao Fabrício que conseguiram o teclado em que compus “Quase um Tango”, em São Paulo; à Fundação GDA e à Casa André Gouveia (Cidade Internacional Universitária de Paris) na pessoa da Dra. Ana Paixão, que, respectivamente, apoiaram e acolheram a estreia absoluta de “2016”; aos companheiros de viagem Pedro Lopes e Fernando Costa, músicos bravíssimos, que, num verdadeiro salto de fé, aceitaram este desafio.
O carácter cinematográfico (para quem gosta de rótulos mais simplistas) da música que compus é bastante vincado e em consonância com esse registo foram por mim concebidos filmes/vídeos que, em palco, serão projectados e dialogarão com a performance musical. Em www.joaovasco.com poderão ver estes vídeos e acompanhar
a agenda de “2016”.
Espero vê-los na plateia!