Notas editoriais
André Vaz Pereira e Nuno Soares
A Berceuse (canção de embalar) para violino e piano foi composta na sua primeira versão em 1922, sendo a versão final de 1926. Esta é uma das primeiras obras de música de câmara de Frederico de Freitas, na qual está reflectida a influência simbolista. A primeira performance da Berceuse foi a 22 de Março de 1926 no Salão do Conservatório Nacional, interpretada pelo violinista Fernando Cabral e pelo próprio Frederico de Freitas ao piano (segundo programa de concerto no espólio do compositor, referente a concerto dedicado às suas obras de música de câmara).
Descrição das fontes
Para a presente edição da Berceuse para violino e piano foram confrontadas várias versões manuscritas da obra, apresentadas cronologicamente:
Fonte 1: Autógrafo do compositor a caneta (versão de 1922) do espólio de Frederico de Freitas, Biblioteca da Universidade de Aveiro: manuscrito de 3 páginas com o título “Berceuse para violino e piano”, e uma página com a parte cava de violino.
Apesar de indicar 1926 a lápis no manuscrito, é a versão inicial da obra (1922), tendo inclusive a indicação “Esta obra foi refeita” no início da partitura, na primeira página, e as páginas rasuradas na sua totalidade, incluindo a parte cava. Inclui algumas alterações adicionadas a lápis, provavelmente no contexto da revisão que levou à elaboração da versão de 1926.
Esta primeira versão difere em notas, ligaduras de expressão e tessitura em que o violino está escrito. Estas disparidades não foram tomadas em conta nesta edição, uma vez que há bastantes diferenças entre as versões de 1922 e de 1926.
A versão de 1922 foi consultada no sentido de clarificar as diferenças entre o manuscrito do compositor e as cópias assinadas por Lídia de Carvalho (fontes 3 e 4).
Fonte 2: Autógrafo do compositor a lápis (versão de 1926) do espólio de Frederico de Freitas, Biblioteca da Universidade de Aveiro: manuscrito de 4 páginas com o título “Berceuse”. Esta é a primeira versão manuscrita da versão de 1926 com a indicação, registada por Frederico de Freitas, “nova versão 1926” escrita a lápis na primeira página. Contém ainda ossias para a mão esquerda do piano, o que sugere que a obra ainda iria sofrer alterações.
Fonte 3: Cópia manuscrita a caneta (copista não identificado) da parte geral assinada por Lídia de Carvalho¹, com as datas de 1925-1926; partitura de Lídia de Carvalho, arquivo pessoal de André Fonseca: manuscrito de 3 páginas com o título sublinhado “Berceuse”. Este é o manuscrito que fornece mais indicações em termos de dinâmica e articulação, e foi a versão de referência para a presente edição².
Fonte 4: Cópia manuscrita a caneta (copista não identificado) da parte cava de violino assinada por Lídia de Carvalho, com as datas de 1925-1926; partitura de Lídia de Carvalho, arquivo pessoal de André Fonseca: manuscrito de 1 página com o título “Berceuse”.
A comparação da fonte 2 com a fonte 3 foi essencial para a compreensão do processo evolutivo da obra. A fonte 2 tem menos indicações de dinâmica, diferindo por vezes entre as duas versões; as diferenças constantes na fonte 2 ao nível do texto musical foram remetidas para ossia. Para além das poucas indicações de dinâmica ou articulação inclusas na fonte 2, faltam nesta fonte vários compassos, como, por exemplo, os compassos 21 e 22, que revelam a intenção do compositor de alterar a versão da fonte 2. Apenas a fonte 3 inclui as várias tentativas do autor para alterar o discurso musical dos referidos compassos. Assim, apesar de a fonte 2 ser sempre incluída em ossia nesta edição quando tal se justifica, a versão escolhida como referência principal é a fonte 3.