É na segunda metade do século XIX que aparecem pela primeira vez em Portugal, e Lisboa em particular, obras de autores portugueses com contrabaixo solista ou integrado em agrupamentos de música de câmara, sendo a primeira delas a Fantasia para Contrabaixo de João Rodrigues Cordeiro, escrita em Novembro de 1864.
A Fantasia para Contrabaixo foi escrita para o exame de entrada do compositor na Associação Musica 24 de Junho, conforme consta no frontispício do manuscrito autógrafo existente na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).
Trata-se de música inserida no gosto comum da Lisboa oitocentista, ainda muito focada na ópera italiana, com algumas passagens notoriamente de gosto popular.
É de realçar o uso do contrabaixo também na sua função natural de voz mais grave nos Tutti, dando assim uma dimensão mais profunda à textura do quarteto de cordas.
Esta obra está muito bem escrita para o instrumento solista, usando tonalidades confortáveis, permitindo assim um uso amplo e fácil dos primeiros harmónicos naturais e cordas soltas nas duas primeiras cordas.
O autor destas linhas está convicto que esta obra foi escrita para contrabaixo de 3 cordas, com a afinação de Sol 1 na 1ª corda, Ré 1 na 2ª corda e Sol -1 na 3ª corda, baseando-se no facto de que na época, era prática corrente a utilização de contrabaixos de 3 cordas e usual a afinação mencionada. Note-se ainda que a tessitura desta Fantasia não ultrapassa o Sol mais grave e que o uso da afinação mencionada facilita a execução dos 5º e 11º compassos, que sendo similares na sua estrutura funcional, têm a sua execução facilitada com a utilização da 2ª e 3ª corda solta respectivamente.
A primeira edição da Fantasia para Contrabaixo e quarteto de cordas foi efectuada pela Renascimento Musical, Editores Lda., em Abril de 1998, comrevisão, cadências e redução para piano do contrabaixista Alejandro Erlich Oliva, que foi o responsável pela primeira audição moderna desta obra, para além de a ter tocado variadas vezes em Portugal e no estrangeiro.
Para além da presente edição com redução para piano, da responsabilidade de João Paulo Santos, a AVA Editions editará a versão original para contrabaixo e quarteto de cordas, que será acompanhada pela publicação de duas outras obras de compositores portugueses da mesma época – 2ª Sonata para 2 Violinos, Viola, Baixo e CBaixo obrigado deFrancisco Freitas Gazul e Solo de Contrabaixo com acompanhamento de Quartetto de Júlio António Avelino Soares – para contrabaixo solista e quarteto de cordas, também na versão original e redução para piano.
Está ainda dentro dos planos editoriais a publicação de duas obras de Francisco Freitas Gazul - La Première Jeunesse e Sonatina - para Sexteto (2 Violinos, Viola, Violoncelo, Contrabaixo e Piano).
Adriano Aguiar
Janeiro de 2013