Prefácio
Composta por José Vianna da Motta aos doze anos de idade, a Gaieté, Galop op. 35, em mi bemol maior,
pertence ao conjunto de obras de infância escritas entre 1873 e 1883. É de notar que, inicialmente, Vianna da Motta tinha-lhe atribuído o título Circo equestre e que no mesmo período compôs The Jockey Club, Capricho op. 32, uma peça também relativa ao universo hípico. É por isso muito provável que a inspiração para a Gaieté, Galop op. 35 tenha surgido de uma corrida de cavalos assistida no Jockey Club de Lisboa, no mesmo espaço onde se viria mais tarde a edificar o Hipódromo do Campo Grande.
O percurso harmónico da Gaieté, Galop op. 35 não apresenta particularidades notáveis para além do facto de nenhuma das suas secções explorar a tonalidade da dominante (cf. esquema estrutural em baixo). É na sua organização estrutural que a peça revela uma maior originalidade.
1- 17- 33- 48- 65- 81- 97- 102- 122- 138- 152- 166- 180-
Intro. a a' b x2 c b' ponte d b' ponte a' b'' Concl.
MI♭: I IV ii (vi/IV) IV IV/IV IV _I
MI♭ LÁ♭ fá LÁ♭ RÉ♭ LÁ♭ _MI♭
O tema de a, relativo às secções a e a', é entendido como sendo o tema principal por ser apresentado na tonalidade da tónica logo a seguir à introdução dos compassos 1 a 16. Contudo, o tema de b, relativo às secções b, b' e b'', aparece com mais frequência – sobretudo na tonalidade da subdominante –, sendo que o tema de a apenas reaparece já perto da conclusão (cf. c. 152-165). Muito embora o tema de b esteja presente entre cada uma das demais secções (a, c e d), as características anteriormente mencionadas descartam a hipótese de uma organização da peça segundo o princípio da forma rondó. Parece, isso sim, tratar-se de uma forma próxima da fantasia ou do improviso, onde as secções se sucedem livremente consoante a inspiração do compositor.
João Costa Ferreira