QUARTETO
(1992-93 / corr.2015)
I – Preludio
II – Lamento
III – Finale
dur. aprox.: 9 min. (1'30''+ 4'30''+ 3')
Sendo eu clarinetista de formação, as minhas primeiras composições inclinaram-se naturalmente para o instrumento que melhor conhecia. Assim foi com a Suite in Jazz Style (1992: quatro clarinetes em sib), as Trois Pièces d'Hommage (1993: clarinete e piano)[1] ou ainda com Efémera (1994: dueto clarinete/percussão). O presente Quarteto(1992-93: quatro clarinetes em sib) insere-se também nesse meu período criativo inicial, sensivelmente pela altura em que comecei a ter formação mais formal em composição enquanto aluno do Conservatório de Música do Porto, na classe do prof. Fernando Lapa. Na verdade, eu começara já a compor empiricamente enquanto ainda adolescente, e entre essas minhas obras juvenis (todas igualmente com o meu instrumento em mente) incluem-se vários duetos de clarinetes, uma pequena peça para clarinete solo, uma substancial sonata em duo para clarinete e clarinete-baixo, e mesmo um ambicioso projecto de concerto duplo para clarinete e clarinete-baixo solistas com orquestra, de que cheguei a completar e orquestrar todo o primeiro andamento e parte do segundo, num arrojado plano global em três andamentos.
Essas minhas experiências juvenis lidavam já, ainda que de modo algo naif, com a noção de tensão dramática pelo uso da dissonância. Mas foi no Quarteto que tentei, pela primeira vez e forma consciente, sistematizar o uso da atonalidade como recurso expressivo na génese do meu discurso musical. Ao mesmo tempo comecei também a preocupar-me mais com a organização formal das minhas ideias, à medida que assimilava conceitos como exposição, desenvolvimento, reexposição, variação, etc. Assim, no caso da presente obra, o primeiro andamento, Preludio, assume uma estrutura cíclica de variação contínua, em que dois curtos motivos, um mais rítmico, outro mais cantabile, são ininterruptamente variados. Já o Lamento é um fugatto livre com ecos de Hindemith na textura harmónica de 4as e 5as perfeitas sobrepostas, e uma reverência ao mestre da fuga, Bach, no rendilhado contrapontístico das diversas linhas. Quanto ao Finale, assenta numa tradicional forma ternária (ABA'), em que a secção intermédia [B], bastante contrastante, relembra o ambiente harmónico do segundo andamento (4assobrepostas). A secção reexpositiva final [A'] recupera vários temas de todos os três andamentos, funcionando assim como um sumário da obra na sua totalidade.
Este Quartetoserviu de base ao posterior Quinteto para sopros (1997-98: flauta/ oboé/ clarinete/ fagote/ trompa), onde o material musical foi re-trabalhado e desenvolvido, procurando novas saídas para o paradoxo criativo.
Luís Carvalho (2015)
[1] as Trois Pièces d'Hommage foram originalmente concebidas como três peças independentes, para clarinete e harpa, clarinete e guitarra e clarinete e piano, respectivamente; em 2000 foram revistas como suite tripartida, em quatro versões: flauta-alto e piano / oboé d'amor e piano / clarinete em lá e piano / saxofone-soprano e piano.