Composta por José Vianna da Motta aos dez anos de idade, a Valsa op. 16, Amor Filial, em si bemol maior, pertence ao conjunto de obras de infância escritas entre 1873 e 1883. Apesar de Vianna da Motta ter composto valsas durante toda a sua vida, este género musical nunca participou verdadeiramente na construção identitária da sua obra para piano.
Entre as valsas de infância podem identificar-se vários traços pianísticos comuns que relevam as procuras técnicas sobre as quais Vianna da Motta estava debruçado, assim como as tendências musicais que o influenciavam: as transições entre as passagens relativas às indicações Andante e Valsa das valsas op. 14, As Férias e op. 16, Amor Filial (transições caracterizadas por um acorde da dominante com fermata, uma subida em direção aos agudos construída em torno das notas desse acorde e uma descida cromática com rallentando nas três últimas notas); as hemíolas dos temas das valsas op. 14, As Férias, op. 16, Amor Filial e op. 19, Volúvel ou as sucessões de notas alternadas entre as mãos, de certo modo precipitadas pelas indicações più mosso, vivo ou accellerando, sob as dinâmicas forte e fortissimo ou sob a indicação crescendo nas secções finais destas valsas. É provável que a procura pelo virtuosismo nestas secções proceda da vontade de Vianna da Motta se afirmar, enquanto criança prodígio, perante as figuras do meio artístico que frequentavam os salões musicais naquela época.
É, contudo, nas questões estruturais que as semelhanças entre a Valsa op. 16, Amor Filial e a Valsa op. 19, Volúvel são incontestavelmente significativas. A forma e o percurso harmónico destas peças são iguais, muito embora elas não tenham sido escritas na mesma tonalidade.
Intro.
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A
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B
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A'
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Coda
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a
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b
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a'
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c
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d
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c'
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a''
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I
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I
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V
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I
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bVI
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V/bVI
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bVI
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I
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I
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É possível que as semelhanças estruturais destas duas valsas sejam fruto de um exercício de composição exigido a Vianna da Motta. Mas poderão ser também fruto da sua vontade de trabalhar sobre materiais musicais extra-estruturais com origem comum: o tema melódico principal construído, em parte, sobre umas escala cromática descendente; as transições entre b e a' caracterizando-se por uma linha descendente em oitavas nos graves e por um acorde de dominante nos agudos escrito sobre a terceira nota dessa linha; as zonas de transição entre c' e a'' caracterizando-se pela repetição do acorde de sétima da dominante nos graves e por uma escala nos agudos composta por um tom e uma série de semitons.
João Costa Ferreira