“Nem todo o mar é água”1. Esta foi, sem dúvida, uma das frases que mais me impressionou, do conjunto de leituras que fiz aquando do convite que me foi feito para escrever uma obra musical para apresentação no Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim. Interessou-me a sua história, as suas tradições, a sua música e os seus costumes. Interessaram-me as suas memórias, as histórias das suas gentes… e o mar - esse sempre presente mar.
E há mar arranhado… batido… e bulideiro… mar calmo… e cão… e cavado… há mar de dublas… e de lama… e de senhoras… há mar a serrar a barra… mar terrenho… mar vem-de-vinda… mar de vento… mar vingado… mar vivo…!
E “…há sempre uma reza a qualquer hora, um toque de trindades, um terço ou uma novena que faça recordar os seus mortos no mar e que os reabilite na vida eterna.”2 E há dança que é também labuta, agitação, divertimento, folia…
Não descrevo histórias da Póvoa, nem sequer do mar, mas é esse mar que me une à Póvoa, o mar que faz igualmente parte das minhas memórias.
Mas tudo isto se foi desvanecendo na composição de Danças com Mar, tendo, no entanto, permanecido como que num baú de afectos, emoções, sensações, memórias, sempre ao dispor para uma qualquer utilização num qualquer momento.