A Suite Concertante foi encomendada por Miguel Sobral Cid para o Festival de Música de Leiria de 2003, e foi composta para o flautista António Carrilho e para a Sinfonietta de Lisboa. Sendo o tema desse ano a "viagem", escrevi uma obra que, de certo modo, viajasse e visitasse tempos e lugares muito diversos. Assim, a música folclórica da Roménia e da Macedónia, da Irlanda e Escócia, do Brasil, e, em particular, a música de Bach e Vivaldi, entre outros, serviram-me de inspiração para diversos momentos desta suite, que, porém, não se esgota numa simples referência, ou pastiche, a outros estilos. Esta viagem por tempos e lugares vai ainda mais longe, pois contém nela uma outra viagem paralela, presente nas mudanças de humor, de andamento para andamento. O drama, a ironia, a alegria, a melancolia, a tristeza ou a inquietação percorrem a obra, sem que nenhum destes sentimentos domine os outros. Viajando por lugares e tempos, viajamos também com o coração, e esta Suite Concertante torna-se assim numa viagem sentimental (se bem que, como ironizou Bernard Shaw, o coração seja "essa víscera que serve para justificar tudo…"). A escrita instrumental é brilhante em muitos momentos, mesmo para as cordas, e faz plenamente jus ao adjectivo "Concertante". A orquestra tem ainda a característica menos habitual de os violinos não estarem divididos em primeiros e segundos, sendo a textura em grande parte a 3 e 4 vozes, com os contrabaixos mais independentes dos violoncelos do que o costume.
© by Sérgio Azevedo