Redução para Piano António Ferreira
A tuba é um instrumento com uma sonoridade poderosa, mas jamais estridente - do mesmo modo que também não tem um timbre que se possa considerar perfurante, como é o caso do trompete ou do oboé, por exemplo.
Assim, a tuba possui características sonoras que fortalecem e ampliam o tutti da orquestra, alterando o som geral da mesma, mas sem que isso signifique que o instrumento tenha em si uma tendência natural para sobressair.
De facto, a tuba serve habitualmente para valorizar, mas só muito rara e dificilmente se valoriza a si própria. Daí haver também quem pense que a tuba se deva considerar um instrumento doce e fundamentalmente melódico, o que também não é verdade.
Não se pode confundir uma tuba com uma Flauta, do mesmo modo que só por absurdo se poderia confundir um elefante com uma borboleta.E contudo, são ambos seres de uma extraordinária beleza e elegância, dentro dos movimentos que lhes são próprios.
A Tuba pode ser um instrumento lindíssimo, mas encarado e tratado tal como ele é. Como acontece muitas vezes com os contrabaixos e as próprias violas de arco, a função mais habitual da tuba é servir o conjunto e não salientar-se no meio dos outros instrumentos.
De um modo geral, os contrabaixos fortalecem os alicerces de todo o discurso musical, sem que se dê necessariamente pela sua presença. As violas de arco fortalecem as harmonias, sem que muitas vezes se repare que elas também estão a tocar.
A tuba fortalece o timbre, que seria totalmente outro, muito menos nobre e também muito menos seguro se acaso ela lá não estivesse.
Compreender-se-ão as preocupações de um compositor que escreva um Concerto para tuba, sabendo-se que o conceito de Concerto se associa automaticamente à ideia de solista, à exaltação das potencialidades de um instrumento, ao brilho, aos efeitos de malabarismo e até - nalguns casos menos desejáveis, mas assim mesmo frequentes - a um certo exibicionismo…Ora, nada disto é possível - e menos ainda desejável - com a tuba.
Assim, o que eu pretendi obter - e não sei, naturalmente, se o consegui… - foi escrever uma obra que pudesse realçar aquilo que de facto representa o carácter da tuba, e que é valorizar o conjunto.É para obter essa valorização do conjunto que a tuba tem, nalguns casos, de realizar passagens de verdadeiro virtuosismo técnico, sem que, de um modo geral, o público dê por isso.
Deste modo, o objectivo do Concerto que compus não é mostrar a tuba como ela não é, mas sim levar os auditores a tomarem consciência daquilo que a tuba realmente representa e - pode produzir em defesa de um valor superior que é a própria música no seu conjunto.
Não se trata de uma cerimónia de homenagem, mas sim de um acto de gratidão para com esse admirável e generoso instrumento.
António Victorino D’Almeida