Quarteto de Cordas
Existem diversas formas de vivermos a morte de uma pessoa que amamos, e existem também diferentes fases na dor que sentimos.
Perdi o meu avô no dia 5 de Novembro de 2000. É inimaginável a tristeza que senti, mas a subita saudade causou-me logo nos primeiros instantes um turbilhão de emoções e pensamentos, entre choros compulsivos e gargalhadas descontroladas. Naquela capela, lembro-me de sentir o meu olhar perder-se no infinito e recordar-me em poucos minutos de muitos momentos vividos com ele, de grandes ensinamentos de vida, situações hilariantes, passeios, viagens, conversas e até zangas, a felicidade no nascimento dos bisnetos, ao mesmo tempo que o meu rosto se relaxava por ter regressado num passado e reencontrado aqueles momentos que não se podiam ter perdido. Porém, bastava o olhar fixar outro ponto, para que subitamente percebesse que estaria perante a indesejada sujeição de ter que aprender a viver com a saudade, e tornar as recordações a única e tão solitária maneira de substituir a sua presença ao pé de nós.
Dez anos passaram-se. O meu avô é parte do meu pensamento diário e das histórias que conto. Mas existe dentro de mim uma enorme confusão; pois pior do que perder uma pessoa, pior do que nos conformarmos com a falta de alguém que morre, é não entender a morte. Eu não entendo a morte.
A Elegia foi estreada pelo Quarteto Lopes-Graça do qual sou membro fundador e toco 2º violino. Por isso existem determinados momentos que escrevi para mim, de maneira a que pudesse ser eu a partilhar musicalmente com o público o que mais ninguém poderia sentir por mim. Esta peça é dedicada ao meu avô.