Esta edição apresenta uma leitura crítica de todos os manuscritos disponíveis da Sonata Saudade. Todas as anotações na partitura provêm da mão de Óscar da Silva. A fonte principal para esta edição é o manuscrito autógrafo C.M. 471 da Biblioteca Nacional de Portugal, enriquecido com todas as variantes do manuscrito C.M. 470, também da Biblioteca Nacional. Ambos os manuscritos foram usados por Óscar da Silva em performance; o C.M 471 é provavelmente o autógrafo original da partitura, e o C.M. 470 é uma cópia feita nos anos 50, depois de o compositor ter regressado a Portugal. As partes de violino de tanto C.M. 471 como de C.M 470 contêm indicações únicas a respeito de notas, dinâmicas, articulação, e andamento, e por isso são tratadas como fontes adicionais.
O manuscrito C.M. 470 foi revisto pelo violinista Paulo Manso em preparação da sua apresentação da Sonata em 1954. Numa nota na parte de violino, Manso escreve: “Esta Sonata foi revista por mim de acordo com o autor quando a tocámos no Ateneu Comercial do Porto no concerto em sua homenagem a 29 de Junho de 1954. Toquei-a mais tarde com Fernando Laires na Emissora Nacional no dia 13 de Dezembro do mesmo ano.” O maior contributo de Paulo Manso é a simplificação das passagens de violino mais difíceis no primeiro andamento; a parte de violino revista por Manso é apresentada completa no Apêndice à parte de violino.
Estes manuscritos foram confiados ao Conservatório Nacional em Lisboa pelo compositor. O director do Conservatório, Ivo Cruz (1901–1985), era um grande admirador e promotor de Óscar da Silva, e tinha-lhe solicitado o manuscrito da Sonata em 1950, assim como outros do compositor. Em 1990, o Conservatório confiou todo o seu espólio (Sonata Saudade incluída) à Biblioteca Nacional de Portugal.
Esta edição procura preservar o impacto visual de uma partitura de Óscar da Silva. Nessa linha, conservei algumas inconsistências aparentes, como o assinalar de quiálteras ou não, ou ligaduras que às vezes estão marcadas e outras vezes não.
Indicações encontradas em todas as fontes são apresentadas sem comentário. Indicações encontradas em uma ou duas fontes são apresentadas dentro de parêntesis ( ); estas incluem alterações cromáticas, indicações de dinâmica, articulação, e andamento, e algumas vezes notas. O compositor e o copista nem sempre cancelam acidentes, ou mesmo escrevem as notas correctas quando repetem uma passagem; para cada caso propus a leitura mais lógica, apresentada dentro de parêntesis rectos [ ] e razoada no relatório crítico.
Todas as dedilhações e indicações de pedal provêm dos manuscritos de Óscar da Silva. Acerca do uso do pedal: na edição impressa de Divertimentos (OS I/70), um asterisco na primeira página na indicação “con Ped.” remete para a nota de rodapé onde se pode ler “Empregar cuidadosamente os pedais”. Acho que é um excelente conselho para toda a obra de Óscar da Silva com piano.
Miguel Campinho
Austin, Texas 2020