A instrumentação inusual da ‘Suite de Danças’ (de 1984) deve-se ao facto de ter sido escrita para o (e dedicada ao) Opus Ensemble, que a estreou a 18 de Maio de 1986, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian. Ela articula-se em 3 andamentos, à maneira de uma breve Suite barroca, com Prelúdio, Sarabanda e Tarantela.
O Prelúdio é um ‘Allegro’ enérgico (212 compassos), ao qual o compasso de 5/8 assegura vivacidade rítmica. Numa forma genericamente AA’-Coda, ele apresenta uma escrita muito concertante, mas sempre extremamente adequada à “personalidade” de cada um dos instrumentos, com o ‘cantabile’ predominante de viola e oboé a ser ocasionalmente “perturbado” por um piano explorado com angulosidade.
A Sarabanda (‘Lento’), no compasso 3/2 que lhe é peculiar, instala desde logo um tipo de material (cromático) e uma atmosfera bem diferentes. Canto da violeta (‘piano espressivo’), atonal, a que responde o oboé sobre um material de perfil intervalar (quase) simétrico ao da viola. O piano, desde a sua entrada, irá “dirigir” o discurso para ambientes anímicos diferenciados, antes que o oboé, recuperando o tema inicial, restaure também o clima do começo, ao qual a Coda emprestará uma qualidade de imperturbável serenidade.
Total contraste na Tarantela (no 6/8 costumeiro), indicada ‘Vivacissimo’: aqui, energia e ímpeto inesgotáveis, com o impulsivo ritmo típico dessa dança originária do sul de Itália a ser bem escandido logo desde as intervenções iniciais da violeta, com o oboé em imitações (ou vice- versa), com o piano a “intrometer-se” tematicamente aqui e ali nessa corrida quase frenética. A Reexposição revela-se, na continuação, condensada, precipitando a Coda brilhante, marcada pelo adensamento da textura pianística.
Bermardo Mariano