(Mahler/Carvalho):
SYMPHONY No.10, F# major, for large ensemble
SINOPSE
Gustav Mahler: Sinfonia nº10, em fá# maior (1910, inacabada) /
Luís Carvalho: uma reinvenção dos esboços para grande ensemble (2011-12/rev. 2013-14)
I – Adagio-Andante
II – Scherzo I
III – Purgatorio
IV – Scherzo II
V – Finale: Adagio-Allegro-Adagio
«Pode dizer-se que a que a Décima Sinfonia é (ou viria a ser) mais grandiosa do que a Nona.»
(Michael Kennedy, in Mahler [Master Musicians Series], 1990)
Nos últimos anos de vida Gustav Mahler compõe intensamente, criando uma trilogia final de obras que nunca chegou a ouvir, e que nunca chegou a ter hipótese de rever, como era seu hábito. No entanto, e enquanto para Das Lied von der Erde e a Sinfonia nº9 deixou duas partituras completamente acabadas e orquestradas, em suma, prontas para serem estreadas, da Sinfonia nº10, composta no último ano de vida, deixou apenas, ainda que bastante elaborado, um esboço contínuo de uma obra em cinco andamentos. Das Lied von der Erde foi estreada em Munique logo a pós a morte de Mahler (20/Novembro/1911), e a Sinfonia nº9 em Viena, no ano seguinte (26/Junho/1912), ambas as apresentações dirigidas por Bruno Walter, antigo discípulo e protegido do compositor. A Sinfonia nº10, por motivos óbvios, ficou de fora destas manifestações póstumas, mas a palavra foi passando dando conta que o compositor havia deixado consistentes rascunhos finais para uma derradeira sinfonia. A história da recuperação da Décima começa por isso logo em 1924, quando Ernst K?enek, coadjuvado por Alban Berg e Alexander Zemlinsky, cria, a pedido da viúva do compositor, Alma, uma primeira versão de concerto do Adagio inicial e do Purgatorio (terceiro andamento). Esta versão é estreada ainda nesse mesmo ano em Viena, mas apenas em 1951 é finalmente publicada, e em Nova Iorque, pela Associated Music Publishers (AMP). Por esta altura já Clinton Carpenter, um norte-americano de Chicago, havia iniciado o seu trabalho sobre os rascunhos da Sinfonia nº10 (1946-1966), tentando a sua orquestração/recuperação na totalidade. Seguiram-se-lhe dois britânicos, Joseph [Joe] Wheeler (1953-1965) e Deryck Cooke (1960-1976), ainda que em completo desconhecimento um do outro. Mas é esta última versão, a de Cooke, que se veio a tornar praticamente standard por todo o mundo nas últimas décadas, sendo, nomeadamente, a mais gravada até ao presente. Este facto não impediu, porém, que outras propostas de recuperação da obra viessem a público mais recentemente, e assim foram aparecendo novas leituras dos esboços por Remo Mazzetti Jr., norte-americano (1ª versão 1983-85; 2ª versão 1997-99), Rudolf Barshai, russo (2000), a dupla italiana Nicola Samale e Giuseppe Mazzuca (2001), e ainda o israelo-americano Yoel Gamzou (1ª versão 2003-10; 2ª versão 2012). Todas estas realizações da Décima são para a tradicional grande orquestra sinfónica mahleriana, mas mais recentemente (2012) Michelle Castelletti, uma maltesa radicada no Reino Unido, propôs uma abordagem alternativa à recuperação da obra, inspirada no conceito de redução orquestral de grandes obras do repertório sinfónico que havia sido introduzido por Schoenberg e seus discípulos na “Sociedade Privada de Concertos” em Viena, ainda na década de 1920.
A presente “reinvenção dos esboços” deixados por Mahler para a Sinfonia nº10 em fá# maior, foi realizada entre 2011 e 2012, e impulsionada pelas comemorações do jubileu do compositor: 150 anos do nascimento (1860 → 2010) e 100 anos da morte (1911 → 2011). Pensada de raiz para um grande ensemble de 21 instrumentistas, praticamente todos solistas, toma também a perspectiva de recriar o universo musical mahleriano através de em formato instrumental mais condensado, mas tentando ainda assim salvaguardar uma certa grandiosidade sonora ao diversificar os timbres instrumentais utilizados, em linha com práticas mais atuais. Sonoridades tão inusuais à música do Romantismo como o acordeão, o saxofone, o clarinete-contrabaixo ou percussões as mais variadas, são aqui utilizadas para criar ambiências sonoras mais modernas, e dar maior riqueza ao discurso musical. Mahler foi ele próprio um grande inovador na arte da orquestração ao seu tempo, e é precisamente essa sua curiosidade, essa sua procura pela originalidade tímbrica que se pretende transportar para os nossos dias, tomando assim uma abordagem à recuperação da obra que pode considerar-se pós-moderna.
Luís Carvalho
(Maio, 2014)