Fl/Fl Sol, Ob/C Ing, Cl Sib, Fag, Trp Fá, Tpt Dó, Tbn, Perc, Pno, Cordas
Interlúdio 2, para ensemble (2008) é a segunda de três peças que escrevo na qualidade de Jovem Compositor em Residência da Casa da Música durante o ano de 2008.
À semelhança da primeira – Interlúdio 1, para grande orquestra (2007) –, esta peça foi concebida a partir de material musical proveniente da ópera Tristão, cuja composição me ocupou de Junho de 2006 a Setembro de 2007, e à qual pretendo voltar oportunamente, para a concluir.
Mas, ao contrário do que sucede com Interlúdio 1, cuja relação com Tristão, embora íntima, não é imediatamente perceptível – uma vez que apenas o material intervalar, sobretudo harmónico, é oriundo da ópera –, quem escutar Interlúdio 2 e venha a ouvir Tristão facilmente se dará conta da estreita relação entre as duas peças, tal é a natureza das semelhanças.
Torna-se, agora, necessário explicitar sucintamente alguns procedimentos usados em Tristão – já experimentados por mim em Antígona, pequena ópera de câmara (2006) – para a definição dramático-musical das personagens. Cada uma delas é caracterizada pelo uso de um conjunto limitado de intervalos na sua escrita melódica e na definição da atmosfera harmónica sobre a qual as suas melodias se desenvolvem. As melodias são ainda caracterizadas pela sua maior ou menor fluência, determinada sobretudo pelo tempo, pelo ritmo e pela agógica. A estes procedimentos, de natureza melódico-harmónica, associa-se a definição de um espaço tímbrico-orquestral para cada uma das personagens: com efeito, cada uma está associada a um determinado instrumento, ou combinação de instrumentos, e a uma determinada forma de emissão do som. A título de exemplo, a primeira personagem a entrar em cena em Tristão – o Sapateiro – está associada ao corne inglês e à marimba e é acompanhada pelas restantes palhetas duplas e pelas cordas em pizzicato oucom o arco poco sul ponticello; o tempo é vivo e as suas melodias tendem a ser mais marcadas que ligadas.
Voltando a Interlúdio 2, diria que é o desfilar da quase totalidade das personagens de Tristão, que aqui se sucedem não segundo a estrutura dramática da ópera, mas em função das suas afinidades harmónicas. Umas surgem musicalmente concretizadas de forma muito semelhante à sua realização em Tristão, através, por exemplo, da citação, quase literal, de uma melodia, embora sobre uma base harmónica distinta; outras são realizadas através dos mesmos procedimentos usados em Tristão, sem recurso a qualquer tipo de citação.Pelo exposto, penso poder afirmar que Interlúdio 2 reúne todas as características de uma putativa Abertura da ópera Tristão.
A peça termina, à semelhança de Interlúdio 1, com uma coda, na qual se procede a uma recapitulação do seu percurso harmónico, estabelecendo-se assim uma clara ligação entre estas duas peças.