Prefácio
José Vianna da Motta compôs duas peças para piano solo às quais deu o título Meditação: a primeira peça dos Três Romances sem palavras, op. 51 composta em julho de 1882 e a Meditação (Méditation – em francês segundo a versão manuscrita) composta em janeiro de 1933 que apresentamos nesta edição. As várias versões existentes da obra revelam a sua evolução ao longo do tempo: a versão manuscrita de janeiro de 1933 que a Musicoteca utilizou para publicar a obra em 1996, a publicação no Comércio do Porto Ilustrado em dezembro de 1933 (edição princeps) e dois exemplares desta publicação anotados pela mão de Vianna da Motta (exemplares V.M. 1150 e V.M. 1151 pertencentes ao espólio de Vianna da Motta da Biblioteca Nacional de Portugal). Apenas estes dois exemplares da edição princeps e a versão manuscrita – que apresenta algumas linhas de fraseado não indicadas nas versões posteriores – foram tidas em conta na revisão e edição desta obra.
A Meditação é talvez a obra para piano mais enigmática de Vianna da Motta. Nenhuma outra parece ter sido escrita numa linguagem musical tão própria dos modernistas do século 20, em particular de Scriabin, sobretudo na secção central agitatodos compassos 35 a 50. A dedicatória feita na primeira página do manuscrito – “Pour A. L. L.” – está também envolta em mistério pois não se sabe a quem estas iniciais se referem. Por baixo dessa dedicatória o compositor acrescentou posteriormente “S. G. S.”, o que parece ser mais um dedicatário.
Cinco anos após a sua composição, a 9 de maio de 1938, Vianna da Motta estreou em Portugal a sua peça, num concerto do Orpheon Portuense no qual se lhe prestou homenagem pelos seus setenta anos de idade. A versão da obra apresentada pela Musicoteca (proveniente do manuscrito) foi comercializada pela primeira vez em 2018 pela Toccata Classics, com uma interpretação do pianista português Luís Pipa gravada em 2008.
João Costa Ferreira