Gustavo Romanoff Salvini nasce a 25 de Março de 1825 em Prauss, uma localidade então pertencente à Prússia, mas que hoje faz parte da Polónia. Biografias oficiais dizem que deixou a sua terra Natal “em virtude de perseguições políticas” e que “refugiou-se em Itália em fins de 1846. Ali aperfeiçoou os seus estudos de Canto, iniciando a carreira lírica no ano de 1849. Dez anos depois entrou no nosso país, escriturado para o real Teatro de São João, pela empresa Laneuville”. (biografia de Bertino Daciano Guimarães no manuscrito de “As minhas lições de Canto”). A 17 de Outubro de 1859 debutou neste teatro, na ópera “Beatrice di Tenda” de Bellini. Porém na ópera seguinte -“Os Puritanos” de Bellini – um incidente levou-o a perder a voz, pondo termo à sua carreira lírica.
Fixando-se na cidade do Porto, Salvini vira-se para uma carreira no ensino de Canto, Piano e Solfejo. Durante um tempo teve também uma casa de fotografia na Rua do Almada, chamada “Salvini & Co”. Foi também pintor e inventor, tendo patenteado em Milão em 1856 uma máquina para uso musical, chamada “Machine Melografique”, desconhecendo-se porém qual o seu uso concreto.
Como professor de Canto, Salvini não entendia por que razão os portugueses não cantavam na sua Língua, preterida em favor do Italiano. Encantado pela sonoridade da Língua Portuguesa e pelos seus poetas, Salvini resolve tomar a iniciativa de pôr em música os grandes poetas do Romantismo Nacional, de Camilo Castelo-Branco a Garrett, passando por Guerra Junqueiro, Alexandre Braga, João de Deus, entre outros. Começa por publicar em 1865 uma compilação de 40 canções , a que dá o nome de “Romanceiro Musical”. As canções são antecedidas de um prólogo, onde Salvini tece louvores à língua de Camões:
«Se abrirmos um livro de Herculano, Garrett. F. Castilho, J. de Lemos, Palmeirim e d’outros muitos, - coraremos por ver tão enraizado entre os portuguezes o prejuízo de que a língua de Camões se não amolda às exigências da voz e está tão longe do idioma de Tasso, que o canto não pode della tirar partido! Grave preconceito, erro grosseiro que tanto areja as flores do Orpheo Lusitano, sem as deixar abrir e exalar os seus perfumes.»[Salvini, Prólogo 1ª edição, 1866, p. V]
Em 1884, volta a publicar esta compilação, conservando a maior parte das canções, mas retirando e acrescentando outras, e rebatizando-a de Cancioneiro Musical Português, 40 melodias na língua portuguesa com acompanhamento de piano, letras dos principais poetas portugueses.
Mais do que empreender um esforço para “conseguir que os portugueses cantem na sua língua”, Salvini queria fundar o “Kunstlied” (canção de câmara erudita) português e queria uma reforma para a música em Portugal. Procurou apoio, sem sucesso, junto a escritores como Teófilo Braga e Ramalho Ortigão e até junto ao Rei D. Carlos.
As minhas lições de Canto: Notas ao Vaccai para uso dos portugueses seria, para Salvini, o seu testamento musical. Para a História da Música, este teria sido o primeiro tratado científico sobre voz cantada escrito em Portugal, e para uso dos portugueses. Salvini morre no Porto, oficialmente a 4 de Fevereiro de 1894. No seu jazigo, que pode ser visitado no cemitério de Agramonte no Porto, encontramos uma pequena gruta, símbolo iniciático e alquimista de morte e renascimento, lugar da busca da verdade num útero simbólico, de onde brota a matéria-prima, os minerais e os metais usados na alquimia.